EMPRESÁRIO IRANDIR DE RONDÔNIA EXPORTA FALCATRUAS PARA TODO O BRASIL: TRANSPORTE IRREGULAR

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Irandir de Oliveira, dono da Transbrasil

Resultado de imagem para irandir oliveira de souza transportesRondônia já conhece a peça. Foi vereador em Ouro Preto do Oeste. Entrou no ramo de transportes intermunicipais e interestaduais pela porta dos fundos. Sempre metido em irregularidades. Já foi preso, condenado, Usou tornozeleiras. Andou sumido do noticiário. Mas, eis que um site de notícias de Brasilia, redescobriu o empresário que já causou prejuízos para muita gente. Ele é o Irandir de Oliveira.  Leiam a matéria completa :

Reportagem do portal Metrópolis

O Metrópoles percorreu mais de 10 mil quilômetros para revelar como funciona o esquema criminoso da venda de cópias de liminares pela empresa, que coloca nas estradas ônibus sem condições de rodar e põe em risco a vida de milhares de pessoas

A rotina da família de Jardeli Miranda Nascimento, 24 anos, saiu do prumo no dia 11 de outubro de 2016. Ele, a mulher e a filha de apenas três anos ficaram feridos em um grave acidente na BR-226, durante viagem entre o Maranhão e o Distrito Federal. “Quando o ônibus parou de capotar, fiquei chamando pelo meu marido. Estava encharcada de sangue”, recorda Ana Amélia, 23. O casal até hoje não se recuperou. A mulher ficou com o braço dilacerado e marcas que a seguirão por toda a vida. O homem ainda tenta recuperar o movimento das mãos.

No acidente, 40 pessoas ficaram feridas e duas morreram. Tragédia que poderia ter sido evitada. A Transporte Coletivo Brasil (TCB) ou Transbrasil, empresa que os levava, tem um histórico ostensivo de falcatruas, colecionando acidentes e denúncias gravíssimas de práticas criminosas. Só mantém a autorização da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) para rodar por determinação judicial.

Amparada em liminares concedidas pela Justiça, circula Brasil afora desde 2009, por nove linhas que cruzam o país de Foz do Iguaçu (PR) a São Luís (MA).

As medidas provisórias abriram caminhos para a transportadora multiplicar sua rentabilidade sustentada no crime. O esquema sinuoso é movido pela venda de cópias de autorizações a partir de R$ 1,2 mil. O chamado “kit liminar” permite a veículos que não sejam da empresa percorrer trajetos de longas distâncias, camuflados na figura de arrendatários.

Muitas vezes, ônibus caquéticos, conduzidos por motoristas sem habilitação e expostos a jornadas excessivas ao volante, são colocados para rodar nas estradas brasileiras. No embarque, os prepostos do esquema raramente pedem identificação dos passageiros. Passe livre para o transporte de armas, drogas, menores desacompanhados e também fugitivos da lei. Para os usuários atraídos pelas passagens até 50% mais baratas, a viagem pode se transformar em um verdadeiro inferno.

Daniel Ferreira/Metrópoles

Após três meses de apuração e quase 10 mil quilômetros percorridos, o Metrópoles revela nesta reportagem como funciona a dinâmica do crime que alcançou e mudou para sempre a vida da família do vendedor Jardeli e de tantas outras. Uma maquiavélica organização que responde também por sonegação de impostos e descumprimento das leis trabalhistas.


Os repórteres fizeram duas viagens em ônibus da transportadora nos trechos Distrito Federal/Teresina (PI) e Osasco (SP)/São Luís (MA). Em Goiânia (GO), descobriram como ocorre a negociação do “kit liminar”, uma pasta verde que inclui toda a papelada necessária para circular por milhares de quilômetros sem serem importunados pelos órgãos de fiscalização.

Pacote completo

Integrantes do esquema vendem a terceiros adesivos para “envelopar” os ônibus, talões de emissão das passagens, etiquetas de bagagem, uniforme e crachás de motoristas, além da inclusão no sistema de rastreamento, medida obrigatória pela legislação. Tudo com o nome e a logomarca da Transbrasil.

A certeza da impunidade faz com que os representantes da empresa não se preocupem em deixar rastros. Assim, o perigo viaja ao lado de quem se arrisca a fazer o percurso. Os números das infrações cometidas pela transportadora provam isso. Acumula 14 mil autuações, segundo dados da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT).


A engenharia para terceirizar autorizações precárias de funcionamento surpreende pela sua abrangência e capilaridade. A Transbrasil/TCB não é uma empresa de fundo de quintal. Pelo contrário. Transporta milhares de passageiros. Segundo o cadastro da ANTT, tem 286 ônibus ativos e 1.396 motoristas. Frota reforçada por outras centenas de arrendatários.

Robusta também é a ficha criminal de seu proprietário, Irandir Oliveira de Souza. Atualmente, só em Rondônia, acumula 149 processos das mais diversas naturezas delituosas. Além disso, é alvo de investigação por peculato, falsidade ideológica e formação de quadrilha. Já foi preso, usou tornozeleira eletrônica e hoje cumpre pena em regime aberto.

Nessa reportagem especial, o Metrópoles desvenda a fórmula do combustível que move os tentáculos dessa organização criminosa. Segundo a ANTT, a estrutura montada conta com a participação de milícias formadas por polícias militares, civis e outros agentes públicos.

1ª PARADA


A primeira viagem realizada pelo Metrópoles em um ônibus com a marca Transbrasil ocorreu em 3 de fevereiro deste ano. Uma série de fatos incomuns chamaram atenção. Para começar, o ônibus caía aos pedaços e partiu de uma parada improvisada.

Duas passagens foram compradas a R$ 180 cada no terminal de Taguatinga. Valor abaixo dos R$ 240 cobrados na Rodoviária Interestadual de Brasília. O bilhete emitido trazia o nome Zé Maria escrito à caneta. Segundo o vendedor, o ônibus que faria a viagem até Teresina (PI) pertencia a um terceiro, que alugava o veículo para a Transbrasil, prova de que o serviço fora terceirizado pela transportadora.

E, embora o trajeto comprado fosse Brasília (DF)/Teresina (PI), inexplicavelmente, o tíquete registrava São Bernardo do Campo (SP)/Fortaleza (CE).

A saída estava agendada para as 11h, de Taguatinga. Só que no horário previsto, o coletivo não apareceu. Com o atraso de quase uma hora, os passageiros ficaram impacientes. Um homem que se apresentou como Brito Legal, gerente de vendas da Transbrasil, explicou que os usuários deveriam seguir em um carro de passeio até outro local, na QNM 23/25, em Ceilândia, onde estavam outros coletivos da empresa. O que não é praxe nas viagens regulares.

Daniel Ferreira/Metrópoles

O percurso até o terminal improvisado durou 10 minutos. No caminho, o motorista confidenciou já ter trabalhado por seis dias corridos sem descanso, fazendo viagens de até 30 horas, entre DF e Piauí. A Lei 13.103/2015, que dispõe sobre o exercício da profissão, assegura o repouso mínimo de seis horas consecutivas em alojamento externo ou, se na cabine do leito, com veículo estacionado, a cada 72 horas.

Segundo consulta ao sistema da ANTT, o veículo modelo Mercedes Benz 0400 Paradiso, de 1999, está inativo na frota da Transbrasil. Com pintura desgastada e películas estragadas, não oferecia wi-fi e TV, apesar da sinalização de que os serviços existiam. Do ar-condicionado, vinha um cheiro de mofo e goteiras. Do banheiro, a água escorria para o corredor e molhava os pés das poltronas. Passageiros fumavam sem ser incomodados dentro do veículo.

Daniel Ferreira/Metrópoles

O ônibus partiu às 12h30. A certeza de que a viagem seria uma via-crúcis de irregularidades surgiu logo na partida. O motorista, que dividia a cabine com o proprietário do coletivo, começou a fazer várias paradas não programadas no itinerário oficial. Uma delas no acostamento da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), para esperar a chegada do segundo motorista que faria a viagem, outra exigência da legislação.

Em Sobradinho, Zé Maria, o dono do veículo, desceu do ônibus, que finalmente pegou a BR-020, para iniciar o percurso de 2,9 mil quilômetros e quase 30 horas de viagem. Foram 12 paradas, a maioria em locais com pouca estrutura, não frequentados pelas transportadoras tradicionais. Próximo à cidade de Rosário (BA), o coletivo quebrou. O guia que recolhe e cobra as passagens foi quem resolveu o problema, com ajuda do motorista. Era noite e o lugar, sinistro.

Em sua 10ª parada, em uma churrascaria no município de Canto do Buriti (PI), a 1.332 km do DF, o fotógrafo do Metrópoles usou uma pequena câmera para fazer registros do veículo. A ação foi notada por um dos passageiros, que ameaçou a reportagem. “O que vocês estão filmando? Gravem isso aqui”, disse ao levantar a camisa e mostrar uma pistola na cintura.

Por conta do perigo, a equipe deixou o ônibus pouco antes de chegar ao destino final, em Lagoa do Piauí, a 40 km de Teresina.

Maranhão

A segunda viagem da equipe do Metrópoles em um coletivo da Transbrasil foi feita entre Osasco (SP) e São Luís (MA). O embarque ocorreu em 12 de fevereiro. Assim como na capital federal, a passagem foi expedida com locais de partida e chegada – Campinas (SP)/ Fortaleza (CE) – diferentes do que fora solicitado na compra. O veículo também pertencia a um terceiro. Desta vez, uma mulher chamada Rosa era a proprietária.

Daniel Ferreira/Metrópoles