Em Rondônia, encontro da Via Campesina debate impacto do êxodo rural entre juventude

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Os impactos do agronegócio na juventude camponesa na Amazônia é um dos temas do encontro que irá até segunda-feira - Créditos: Movimento dos atingidos por Barragens (MAB)Um dos impactos causados pela expansão do agronegócio no estado de Rondônia é o êxodo rural, e a população que mais sai do campo são os jovens. Para discutir esses impactos na juventude camponesa na Amazônia e no meio ambiente, movimentos populares do campo realizam a terceira edição do Acampamento da Juventude da Via Campesina, na cidade de Ouro Preto, em Rondônia. O encontro teve início nesta sexta-feira (2) e segue até segunda-feira (5), considerado o Dia Mundial do Meio Ambiente.

“O agronegócio vem se expandindo do sul do Estado, da divisa do Mato Grosso rumo ao norte, o que vem causando um êxodo rural muito forte, levando o povo do campo para a cidade. Em Rondônia, o êxodo rural é três vezes maior do que a média do Brasil e, dessas pessoas que migram do campo para a cidade, 90% é jovem”, afirma Fred Santana, membro da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Rondônia.

O encontro reunirá jovens indígenas organizados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), atingidos por barragens, apoiados pelo Movimento dos atingidos por Barragens (MAB), Comissão Pastoral da Terra (CPT), MST e do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Impactos

Anne Costa, de 22 anos, é militante no MST. Ela mora no assentamento 14 de agosto, que fica na divisa entre os municípios de Ariquemes e Jaru e relata que conhece muitos jovens que saíram do campo acreditando que na cidade poderiam encontrar melhores oportunidades.

“Eles vão pela necessidade do dinheiro, mas no final de semana, eles retornam para o assentamento, porque eles ainda têm essa origem de camponês. Então, o trabalho é para se sustentar, ter uma renda, mas a vontade deles é de estar no campo. Tanto que no final de semana, eles retornam para o assentamento, para estar com os outros colegas e com a família”, afirma.

Ela ressalta que, nas cidades, os jovens acabam trabalhando como mão de obra barata para supermercados e frigoríficos da região, setores que absorvem grande parte dessa parte dessa população.

Falta de apoio

Um dos motivos apontados por Santana, que levam os jovens a saírem do campo, é a pressão que o agronegócio faz com as famílias para venderem suas terras ou arrendarem. Aqueles que ainda resistem no campo acabam não tendo oportunidades para acessar linhas de créditos para produzir. Sem apoio técnico, muitas famílias vão em busca das cidades.

“A produção no campo é desvalorizada. O Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], no ano de 2016, liberou três Pronafe jovem [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar] para todo o estado de Rondônia, apenas três jovens conseguiram acessar a linha de crédito, que é para a juventude do campo”, critica.

Alternativas

Para fazer frente à expansão do agronegócio e fixar o jovem no campo, Costa explica que faz parte de um grupo composto por dez famílias, sendo que a maior parte dos integrantes são jovens do assentamento e têm como proposta buscar alternativas para a produção. Além disso, ela diz que também há um grupo cultural de valorização da cultura e identidade do jovem camponês.

A terceira edição do Acampamento da Juventude da Via Campesina reunirá cerca de 150 jovens de realidades distintas do Estado. Durante os quatro dias, a juventude camponesa também irá discutir as reformas da Previdência e trabalhista, propostas do governo golpista de Michel Temer (PMDB) e a luta pelas Diretas Já.