Em Genebra, grupo liderado por Mariana Carvalho diz desconhecer ameaças à Jean Wyllys no Brasil

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Delegação brasileira em Genebra (Suíça)

Deputados brasileiros afirmaram que desconheciam os ataques sofridos pelo ex – deputado. Mas União Parlamentar Internacional optou por reconhecer a seriedade da ameaça e pedir que as autoridades nacionais tomem medidas.

GENEBRA – A União Parlamentar Internacional (UPI) ignora a versão de uma delegação oficial brasileira e adota uma resolução pedindo que as ameaças contra o ex-deputado Jean Wyllys sejam investigadas e que os responsáveis sejam levados à Justiça. A UPI, num primeiro momento, avaliou queixas de violações de direitos humanos contra 229 parlamentares de todo o mundo e selecionou os casos mais importantes para que sejam tratados pelo seu órgão máximo, o Conselho da UPI.

Um deles era de Wyllys, além de 96 casos de ameaças contra deputados da Venezuela e violações contra parlamentares de Uganda, Iemen e Turquia. No momento do exame dos casos, o Comitê de Direitos Humanos de Parlamentares da UPI pediu que a delegação brasileira que estava na reunião, em Belgrado, desse seu parecer.

Mas o grupo liderado pelos deputados Átila Lins (PP), Mariana Carvalho (PSDB), Gilberto Nascimento (PSC), Cleber Verde (PRB), Joaquim Passarinho (PSD), Evandro Roman (PSD) e Jefferson Campos (PSB) indicou “desconhecer” a existência de ameaças contra Jean Wyllys.

“Após a exibição de um vídeo de um minuto e meio em que conto as circunstâncias de meu exílio, esta delegação procurou a organização do evento para dizer que “desconhecia” as ameaças de morte que eu e minha família sofrermos durante os últimos anos, razão de a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) ter concedido medida cautelar contra o governo do Brasil, exigindo providências para manutenção de minha integridade física – medida que foi ignorada”, postou Jean Wyllys no Facebook.

Alarmado e sentindo que os parlamentares brasileiros mentiam, o manager da conferência, Rogier Huizenga, pediu imediatamente os documentos comprobatórios do que eu conto no vídeo (e que foi tema de reportagem do The Guardian ao New York Times, passando por El País e pelos jornais brasileiros sérios, fora os discursos de parlamentares no Brasil e fora deste). “A intenção de Huizenga era confrontar a falsa declaração de desconhecimento da desonesta delegação brasileira e poder informar ao corpo de 179 parlamentares de todo o mundo que meu depoimento no vídeo é, sim, verdadeiro”, disse Wyllys.

A atitude dos deputados foi duramente criticada pelo PSOL, que enviou novas documentações para a Sérvia. Antes, os integrantes da UPI assistiram a um vídeo em que o ex- deputado do PSOL “apresentava sua situação de exilado e as razões que o levaram a ela”. A documentação também inclui a decisão da Organização dos Estados Americanos (OEA) de ter emitido medida cautelar contra o governo do Brasil exigindo providências para manutenção de sua integridade física de Wyllys.

Diante das informações, o grupo internacional optou por aceitar o caso e avaliar sua situação, num gesto interpretado dentro da UPI como uma recusa em aceitar a posição da delegação oficial do Brasil. Nesta quinta-feira, portanto, a entidade decidiu adotar uma resolução em que pede que as autoridades brasileiras garantam a proteção do ex-deputado. A UPI se diz ainda “profundamente preocupada” com a situação do brasileiro que, segundo ela, apresentou provas suficientes de que estava sendo ameaçado.

“Pedimos que as autoridades brasileiras façam tudo o que for possível para identificar os autores das ameaças”, indicou a entidade. A UPI aponta que, apesar de Wyllys não ser mais deputado, cabe ao Congresso agir para que “Justiça seja feita”. Ao blog, Wyllys indicou que a delegação brasileira “se esqueceu de que vivemos em um mundo globalizado pelas novas tecnologias, e que, graças a isso, também mentirosos e cínico como eles podem ser desmascarados”.

Eleito deputado federal em 2010, 2014 e 2018, Wyllys abandonou o Congresso e foi morar no exterior, denunciando “graves ameaças de morte” sofridas. No vídeo que foi exibido na Sérvia, Wyllys também explica que as medidas de proteção solicitada por ele e pela OEA foram ignoradas pelas autoridades brasileiras. “Acho importante que vocês, parlamentares, se deem conta do que está ocorrendo no Brasil”, disse.

Fonte: Blog do Jamil Chade