Eleito negando fundo partidário e reeleição, Bolsonaro quer agora ser reeleito com a grana do partido

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Jair Bolsonaro: "briga de marido e mulher" (Adriano Machado/Reuters)

Em mais uma mostra da capacidade de criar e inflar suas próprias crises, o governo e seus aliados amanhecem nesta quinta-feira concentrados nos desdobramentos do embate entre Jair Bolsonaro e seu partido, o PSL. Após a revista VEJA divulgar, ontem, que o presidente já havia decidido abandonar a legenda, ele veio a público afirmar que as discussões com o partido são “briga de marido e mulher”.

Ninguém sabe ao certo o que isso quer dizer, mas o fato é que Bolsonaro e seu núcleo mais próximo estudam um desembarque do partido que lhe deu guarida na corrida presidencial.

A mudança não é motivada por desavença ideológica, mas uma tentativa de extirpar as crescentes ligações do presidente a candidaturas laranja do partido, envolvendo seu não-demitido ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

Pelo Twitter, Carlos Bolsonaro, responsável pelas redes sociais do pai, afirmou ontem que “se quisermos um país decente” “teríamos que ter candidaturas independentes”. O debate sobre as candidaturas avulsas será pauta do Supremo Tribunal Federal em 9 de dezembro. Para seus defensores, o modelo traria mais liberdade política; para os críticos, pode inviabilizar as campanhas e a rotina da política pelo excesso de candidaturas e pela ausência de uma mínima organização programática. Para este grupo, o que está ruim pode ficar pior.

Um lado curioso no embate entre Bolsonaro e o PSL é que o presidente estaria negociando uma saída que o permitisse levar o fundo partidário de 8 milhões de reais mensais e outros recursos que podem chegar a 700 milhões de reais em quatro anos. A ideia seria levar o dinheiro para o Partido Conservadores Nacional (PCN), em gestação por outro filho do presidente, Eduardo. O debate pode ter implicação direta nas eleições municipais de 2020, em que aliados a Bolsonaro despontam como favoritos em grandes cidades.As discussões partidárias com viés pessoal reforçam que Bolsonaro deixou em terceiro plano a reforma política que defendia no início do mandato. Um dos pilares era a proibição da reeleição presidencial, o que justificaria sua permanência na cadeira presidencial por apenas quatro anos. Outra proposta defendida por ele era a redução no número de deputados, dos atuais 513 para 400.

Outra reforma no Estado, esta sim com potencial de avanço, é a administrativa, que vem sendo tratada com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ela muda, entre outros pontos, a carreira do servidor público. A equipe econômica defende o fim da estabilidade, mas Bolsonaro já disse ser contra. O debate, importante para o país, ficou em segundo plano, engolido pelo “Bolso-exit”.