Educar para transformar: quem é o líder do futuro?

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Curitiba, Parana, Brasil, 18/05/2012, 11h00 - Norman Arruda Filho, superitendente do ISAE/FGV em Curitiba. (Foto: Theo Marques/ISAE-FGV/Divulgacao)

Por Norman Arruda Filho (*)

 Norman Arruda Filho, superitendente do ISAE/FGV em Curitiba. (Foto: Theo Marques/ISAE-FGV/Divulgacao)

“Não existe vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir”. A
famosa frase do filósofo Sêneca – um dos mais célebres advogados, escritores
e intelectuais do Império Romano – se encaixa perfeitamente nas discussões
sobre educação executiva responsável, uma vez que, encontrar seu valor vai
muito além da simples propagação de princípios. As instituições focadas em
formação de líderes responsáveis precisam despertar uma visão global das
mudanças que são necessárias para impactar de forma positiva a sociedade.

O diretor do Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em
Nova York, Vinícius Pinheiro elenca os principais desafios relacionados à
três áreas-chaves:

Economia digital: os avanços em tecnologia, robótica e automação podem
contribuir positivamente para melhorar as condições de vida das pessoas. Por
outro lado, podem ampliar as desigualdades sociais.

Mudanças climáticas e transição para a economia verde: representam uma
mudança nos processos produtivos e uma releitura do uso dos recursos
naturais disponíveis no planeta. Além disso, tem o potencial de geral 18
milhões de empregos no mundo, impactando os outros pilares do tripé da
sustentabilidade: o social e o econômico.

Transição demográfica: considera a realidade inegável e já bastante
discutida de que a população mundial em idade para trabalhar irá diminuir
progressivamente. Com exceção da África que terá um incremento de 12% de
pessoas nesse grupo, há uma previsão de redução de 14% para a Europa. É um
cenário que precisa ser pensado e planejado.

Entre as inovações disruptivas há o receio de que as pessoas sejam
dispensáveis perante a supremacia das máquinas. A alta tecnologia domina
todos os setores produtivos: na indústria, no mercado, na saúde, nas
linguagens, nas nossas escolas, na nossa casa. As novas formas de consumo
questionam nossas referências, nosso próprio modelo de vida e são
acompanhadas de um constante medo do desconhecido, como profissões que
sequer existem ainda. E para atender a tudo isso, não podemos mais ficar
sentados atrás de grandes mesas ou a frente de quadros negros das escolas
sem olhar para o que está acontecendo no mundo ao redor.

A sala de aula como costumava ser tinha o professor como detentor do
conhecimento. Hoje, um aluno com um celular na mão tem acesso a muito mais
informações do que o professor é capaz de memorizar. A sala de aula deve
fazer parte dessa transformação e se tornar um espaço para compartilhamento,
no qual cada um dos envolvidos tem um potencial valioso que não pode ser
limitado a formalidades, mas deve ser medido por sua capacidade de
participação, articulação e contribuição para o aprendizado em comunidade.

Paulo Freire foi um grande educador, pedagogo e filósofo brasileiro que há
décadas defende a necessidade de mudança no papel da educação. Como grande
defensor do aluno protagonista do conhecimento, em suas colocações afirma
que “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para
a sua própria produção ou sua construção”.

Há vinte anos, o ISAE Escola de Negócios defende essa abordagem, acreditando
no potencial de transformação da educação. Ao adotarmos um modelo
educacional que associa teoria e a prática, valorizamos a experienciação, a
avaliação por meio de resultados aplicáveis e o grau de comprometimento do
aluno. Somos defensores do ensino transversal, do aluno como protagonista de
seu próprio aprendizado e vemos o professor como facilitador desse processo
e instigador da busca por mais conhecimento.

Nosso maior objetivo é honrar nosso compromisso de estar aqui para
contribuir com a sociedade por acreditarmos na educação executiva
responsável como grande fator de transformação social. No entanto, a
transformação depende das pessoas. Se as pessoas não se mobilizarem, a
educação sozinha não terá poder algum. Por isso, mais do que estar
consciente das mudanças do mundo do futuro é preciso encará-las como
oportunidades e instigar em nossos alunos a curiosidade, sendo provocador e
despertando o interesse pelo aprendizado e a sede por conhecimento. Somente
assim, quando conseguimos inspirar o outro, deixamos de ser espectadores
passivos e nos tornamos verdadeiros agentes da mudança.

(*)Norman de Paula Arruda Filho é Presidente do ISAE Escola de Negócios,
conveniado à Fundação Getulio Vargas, professor do Mestrado em Governança e
Sustentabilidade do ISAE/FGV, e Coordenador do Comitê de Sustentabilidade
Empresarial da Associação Comercial do Paraná (ACP).