É URGENTE DIMINUIR A ASSIMETRIA ENTRE O AGRO E A INDÚSTRIA NA COMPOSIÇÃO DO PIB DE RONDÔNIA

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Estênio Júnior

 


Se este processo não se iniciar nos próximos 10 anos, os jovens daqui não verão país nenhum…”

 

Por Estenio Junior (*)

 

Não há que se criticar a euforia do setor do agro em relação a pujança econômica no estado de Rondônia. É evidente que o setor é o que mais cresceu nos últimos 10 anos – e, assim, tem contribuído fortemente para que o estado se mantenha de pé e, não raro, pareça uma ilha de prosperidade em meios ao caos em que vive o País.

O Valor Bruto da Produção – VBP (indicador que compara o que foi produzido e o que recebe quem produz) do setor chegou a 32% do Produto Interno Bruto – PIB do estado em 2020. Considerando as cinco cadeias mais relevantes do setor, destacam-se a pecuária de corte (57%); soja (13%); milho (6,6%); café (6,3%) e leite (5,1%). Dados indicam que o setor cresceu 60% nos últimos 10 anos.

Se considerados os empregos gerados, o setor do agro é o que mais emprega no estado (IBGE), com 155.000 trabalhadores ocupados (20,8% do total), seguido pelos trabalhadores no setor público, com 142 mil pessoas (19%), pelo comércio, onde 119 mil trabalhadores se espalham e pela indústria, setor que ocupa 50.156 pessoas, ou 15,8% dos empregos existentes no estado (FIERO).

Entendida a importância do agro para a economia do estado de Rondônia – e por extensão para o Brasil, dado o volume produzido aqui – é necessário formular algumas considerações que justifiquem a urgência e dramaticidade estampada por mim no subtítulo deste artigo.

Em matéria publicada no dia 07 de abril deste ano, a Folha de São Paulo informava que o número de executivos mais experientes para o agronegócio havia aumentado em 30%, citando um estudo da Michael Page, empresa de recrutamento, seleção e treinamento de profissionais de alta gestão para o setor. Na matéria, o gerente executivo da Michael Page, Stefhano Dedini, justificava esse aumento “pela necessidade de incorporar novas tecnologias no setor, com ênfase na área de finanças e tesouraria, além das posições focadas em sustentabilidade, relações institucionais, compliance, governança corporativa e relacionamento com o mercado de capitais que devem ganhar volume“, afirmou à Folha. Para ele, a indicação de certeza de que a tecnologia vai revolucionar o agro desde já, “é a chegada de centenas de startups no setor. E, como sabemos, as startups operam com esta realidade desde sempre”.

Dentre as vagas abertas pelo setor (coordenador de crédito, analista de meio ambiente, coordenador de suprimentos, gerente de vendas em soluções, diretor de relações com investidores, etc.), Dedini notou que a procura por profissionais mais operacionais (ajudantes, operadores, supervisores, técnicos) reduziu bastante. Segundo ele, “com mais tecnologia incorporada no processo produtivo, é natural a necessidade de redução da quantidade de profissionais com este perfil. Como em todos os setores da economia, no agro também a tecnologia é imperativa. Logo, haverá diminuição do número de postos de trabalho”. Embora Dedini atenue a sua visão pessimista argumentando que já está havendo um processo de ajuste, ou de requalificação de trabalhadores, para que parte deles seja aproveitada em tarefas que exijam menos qualificação, é certo que o êxodo já é uma realidade.

Ora, se é certo que o êxodo já é uma realidade, para onde estão indo os trabalhadores “não ajustados” ou “não requalificados” pelo agro? A resposta é obvia: para as áreas urbanas dos municípios, em busca de trabalho no setor de serviços (mais acessível a eles pela baixa e específica qualificação que possuem), comércio (um pouco mais seletivo) e indústria (cuja natureza de atividade exige mais qualificação).

Diante deste quadro, e no sentido de evitar o caos nas cidades,  urge que se formule e implemente políticas de estimulo à industrialização no estado. Não se trata aqui de desconstruir ou relativizar a importância do agro para a economia estadual. A importância do agro vai além da economia. Portanto, sua existência é tão indispensável como o ar que respiramos.

Proponho, entretanto, que o debate sobre o modelo de desenvolvimento do estado entre na pauta da campanha eleitoral do ano que vem, como algo estratégico e central na agenda dos candidatos. De todos os que disputarão um mandato eletivo, seja para o Executivo ou para o Legislativo. Não é sábio deixar que momento fundamental da nossa vida política não insira algo tão grave nas agendas dos candidatos.

Não defendo uma mudança de um padrão para outro. Ao contrário. Defendo que se busque diminuir a assimetria entre um e outro, de modo que a indústria seja um dos destinos preferenciais dos trabalhadores vindos do campo. Mais ainda: creio numa transição organizada, planejada, eficiente, contínua, feita de modo que todos ganhem; o agro, a indústria e, sobretudo, os trabalhadores.

Ou fazemos isso ou produziremos o maior fenômeno de esvaziamento do campo já ocorrido neste estado. Ao contrário dos processos de colonização e povoamento que promovemos no passado, se isso não ocorrer, não será necessário “convidar” as pessoas – principalmente os mais jovens – para irem embora.

Aberto ao debate.

 

Estênio Júnior

(*) Estenio Junior, empresário e presidente da Associação do Polo Empresarial de Porto Velho – APEP pelo segundo mandato, é natural de Fortaleza, CE. Reside em Porto Velho desde 1985. Cursou o ensino médio no Colégio Dom Bosco, é graduado em administração de empresas. Iniciou carreira empresarial vendendo alimentos nas ruas da cidade. Logo inicia a produção do suco QUERO MAIS, em espaço cedido por seus pais. Em 2008, se muda para o Polo e dá continuidade à produção do suco QUERO MAIS, que é líder de mercado há 16 anos.

 

[1] Nome do livro de Ignácio de Loyola Brandão, que versa sobre uma futura distopia brasileira;