“É preciso acreditar no que sonha”, diz tenente Ossuci, do Tiradentes de Jacy-Paraná

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Tenente Ossuci mantém disciplina no Colégio Tiradentes de Jacy-Paraná
Tenente Ossuci mantém disciplina no Colégio Tiradentes de Jacy-Paraná
Tenente Ossuci mantém disciplina no Colégio Tiradentes de Jacy-Paraná

Espírito arrojado, altruísta, repleta de planos e de projetos com perspectivas integralmente voltadas à promoção e bem-estar sociais. Assim é a 1ª tenente da Polícia Militar de Rondônia Erika Josiani Ossuci, diretora do Colégio Tiradentes da Polícia Militar Unidade Jacy-Paraná, região de Porto Velho, que descobriu na corporação a vertente para colocar em prática seu papel de educadora por essência.

“Foi ainda na academia que descobri as vertentes possíveis no trabalho da Polícia Militar, porque antes, como muita gente, também tinha a impressão de que a polícia só atuava em caráter repressivo”, diz a tenente Ossuci, explicando que sempre trabalhou ligada à educação e, mesmo quando entrou para a Academia da Polícia Militar, quando acabara de concluir um curso na área ambiental, achava que faria um trabalho focado no policiamento ambiental.

Mas não foi o que aconteceu. Ainda na academia, cada aspirante foi distribuído a um setor, e ela foi trabalhar no bairro Fortaleza, próximo ao Posto Carga Pesada, em Porto Velho, região de muita carência, com muitas crianças e jovens. Ela se diz privilegiada por ter conseguido desenvolver um trabalho de contato direto com a comunidade, onde foram estabelecidos laços de confiança e de ajuda mútuas. Esse intercâmbio com a comunidade era constante e ali foi desenvolvido o Projeto ‘O Atleta do Bairro’, com a implantação de escolinhas esportivas que ofereciam aulas aos novos atletas, ministradas por policiais militares. Para desenvolver o projeto, Ossuci conta que foram feitas reuniões com associações, palestras nas escolas, formados grupos de lideranças e a população foi bastante parceira. Também sempre premiou com passeios os alunos interessados nas atividades. Ela explica que quando a população tem uma atenção específica e sente confiança, ela se envolve e lhe ajuda a desenvolver as ações. “A população lhe ajuda quando ela sente retorno”.

“Sei o que me foi pedido e sei qual é a minha missão” – Tenente Ossuci 

Ossuci se considera privilegiada por ter realizado esse trabalho que lhe proporcionou atuar também com a maioria dos policiais militares. Conta emocionada sobre uma promoção feita com três escolas carentes da região, que presenteou com um par de sapato 1.200 crianças, no Dia das Crianças. A iniciativa surgiu, segundo ela, porque um dia, durante uma apresentação numa escola, uma garotinha que recitava uma poesia estava descalça. A cena chamou a atenção de alguém que a questionou sobre o motivo e a diretora da escola explicou que, muitas crianças, frequentemente, iam para a aula sem calçado ou mesmo, por vezes, tiravam seus calçados por terem numerações diferentes, e ficavam descalças. Isso chamou a atenção de Ossuci que, com a ajuda da comunidade, comércio lojista e policiais militares, promoveu um evento para presentear as crianças.  “Cada policial adotou um aluno para presentear com um par de calçado. Imagina fazer tudo dar certo numa ação como essa, para que cada criança ganhasse o seu calçado no mesmo dia, sem que nenhuma delas ficasse sem receber o seu presente”, refletiu, falando com entusiasmo do envolvimento que obteve dos amigos policiais, reforçando que ama o que faz e se diz apaixonada pelas causas sociais.

A tenente também fala emocionada sobre quando recebeu o convite para dirigir o colégio de Jacy-Paraná, quando o empreendimento ainda estava em obras. Na época, o então comandante-geral da PM, coronel Paulo César, a chamou e explicou o perfil da pessoa que o governador Confúcio Moura queria para dar andamento ao projeto da escola. Deveria ser uma escola diferenciada para a região que havia sido impactada pelas obras da usina hidrelétrica de Jirau, e que vinha apresentando uma gama de problemas sociais.

Tenente Erika Ossuci, diretora da Escola Tiradentes de Jacy-Paraná

Ao conversar com o governador para entender ao que ele pretendia, ela afirma que passou a nutrir, então, “pelo Dr. Confúcio” um carinho e uma admiração especiais, dada a sua sensibilidade e atenção pela causa. Ela se declara apaixonada pelas causas sociais e sentiu-se gratificada por ter sido escolhida para dirigir o projeto. No final do ano passado, foi formada a primeira turma de alunos.

Para colocar em prática o projeto da chamada “Escola dos Sonhos”, de Jacy-Paraná, o governador recomendou à tenente que fosse conhecer melhor escola e que tomasse outra como modelo de educação e funcionamento. Foi isso o que Ossuci fez. Pesquisou uma escola de referência e estagiou por dois meses no Colégio do Exército, em Brasília, conhecendo, nesse período, um pouco de cada setor. “E é isso que estamos fazendo desde então, em Jacy-Paraná, com o apoio do governo, da Seduc, do Comando Geral, da equipe de professores, alunos e da comunidade local. São cerca de 800 alunos, do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio”, citou, reforçando que quem quiser saber das melhorias, pode conversar com mais de 350 pais que frequentam as reuniões de pais e professores.

O COLÉGIO

Ossuci conta satisfeita que tem toda a autonomia para trabalhar. “Sei o que me foi pedido e sei qual é a minha missão”, afirma, explicando que trabalha com planejamento e que qualquer projeto que coloca em prática tem que ser finalizado. “Isso não quer dizer que só faça quando existam todas as situações satisfatórias, a exemplo dos quatro projetos que já estão sendo colocados em prática na escola, com crescimento gradativo. São eles: as Escolinhas Esportivas, a Banda de Música, O Ensino de Espanhol e o Reforço Escolar. Esses projetos estão sendo feitos paulatinamente, e já temos instrutores para as escolas esportivas, por exemplo; e alguns instrumentos musicais, mas, para atingir a Banda de Música que queremos ainda faltam mais instrumentos e vamos chegar aonde queremos. As aulas de Espanhol são feitas de forma modular. O primeiro módulo foi no ano passado, sem discriminação da série. Este ano são os módulos um e dois. Quanto ao Reforço Escolar funciona com um Plantão Tira Dúvidas, com rodízio de professores, assim não sobrecarrega todos ao mesmo tempo. O projeto funciona atendendo aos alunos que ficam estudando em grupos na biblioteca e, quando têm dúvidas, vão ao plantão tirá-las”, explicou, reforçando que já se pode sentir a mudança comportamental dos alunos na escola, que fez um ano no dia 8 de fevereiro.

A tenente Ossuci diz que sente no olhar dos alunos o respeito pela disciplina e, muitas vezes, algumas mães vêm pedir a ela para que interceda em auxílio de outros problemas da comunidade. Ela exemplifica que eles não podem portar aparelho telefônico nas dependências da escola. Inicialmente isso gerou contrariedade até de alguns pais, mas a diretora explica que conversou atentamente, explicando que para conseguir a plena atenção dos alunos a medida era necessária. “Quando a gente explica com interesse, eles concordam”.

Essa é a experiência que a educadora vem desenvolvendo em  quatro anos que está na corporação. Além das atividades diárias como diretora da Escola Tiradentes, Ossuci se desloca todos os dias para Jacy-Paraná, a cerca de 90 quilômetros da Capital, onde reside. Ela também é mãe de duas crianças, uma garotinha de um ano; e um menino de oito. E também está terminando o mestrado em políticas públicas pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), cujo projeto versa sobre a Escola de Jacy-Paraná. Para que os projetos sejam satisfatórios, Ossuci acha que “a gente precisa acreditar no que sonha. Ter projetos para realizar e sentir-se útil, trocando experiências com as pessoas. Tem que haver troca”, argumenta, afirmando que tem feito muitos amigos por onde passa e o que mais a estimula e incentiva é receber uma observação favorável sobre o que faz.


Fonte
Texto: Mirian Franco
Fotos: Ésio Mendes e Marcos Freire
Decom – Governo de Rondônia