É DE PORTO VELHO O PRIMEIRO TRANSPLANTADO DE CORAÇÃO DE HOSPITAL DE GOIÂNIA

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Wendell (de azul) com a familia em Goiânia

 

Tudo é felicidade na casa do portovelhense  Wendell Calixto de Mendonça, de 40 anos. Ele foi o primeiro paciente do Hospital Santa Casa de Goiânia a fazer um transplante do coração. O ex-árbitro de basquetebol, está em casa em plena recuperação. O feito é atribuído à
dedicação da equipe que durante meses não mediu esforços para manter o
credenciamento da unidade junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) para a
realização do procedimento de alta complexidade. “Foi um presente de Deus”,
comemora o coordenador da equipe de cirurgiões, Geraldo Paulino Santana.

Há mais de 30 anos atuando na Santa Casa, ele conta que, apta a realizar
transplantes cardíacos há quatro anos e habilitada junto ao SUS há mais de
dois anos sem nunca realizar um único procedimento, a unidade poderia
perder o credenciamento em janeiro quando será submetida à nova perícia
exatamente por causa da crise financeira. O cenário interno de precariedade
assustou Geraldo Paulino e a coordenadora do ambulatório de insuficiência
cardíaca, Débora Rodrigues, mas não os desanimou. O transplante foi
realizado na madrugada do dia 18 de setembro envolvendo uma equipe de 19
pessoas.

“No ano passado houve mais de 300 mil internações em Goiás por
insuficiência cardíaca”, lembra a cardiologista Débora Rodrigues. “Não
podemos mais continuar exportando nossos casos”, diz. Ela explica que
transplantes exigem um processo não apenas de preparação técnica, mas
também de convencimento da equipe diante de um quadro desanimador de
falta de estrutura. Durante meses, dois kits de insumos e medicamentos
destinados ao doador e ao receptor foram sendo montados para garantir a
realização do procedimento.

Wendell, morador de Porto Velho (RO), apareceu no ambulatório da Santa Casa para a primeira consulta em abril. No final de junho o quadro de
insufiência cardíaca se agravou e ele teve de ficar 15 dias na Unidade de
Tratamento Intensivo (UTI). Foi ali que recebeu a notícia de que somente um
transplante o livraria da morte. “Eu levei um susto, mas concordei. Não tinha
outra opção”. No domingo, 17 de setembro, em casa com a família, veio o
telefonema decisivo da médica.
Um coração em perfeitas condições foi captado no Hospital de Urgências Dr.
Otávio Lage de Siqueira (Hugol), uma notícia alvissareira pela proximidade.
Somente quatro horas devem separar o momento da retirada do órgão até o
implante, segundo o protocolo médico. Enquanto dois cirurgiões correram para
o Hugol, o restante da equipe se mobilizava na Santa Casa. “Gastamos
exatamente 173 minutos entre a captação até o coração começar a bater no
peito de Wendell”, lembra Santana. O paciente saiu estável do centro
cirúrgico, não sangrou e quatro horas depois já conversava na UTI.

“O que chamou a atenção foi a força da aglutinação das pessoas mesmo
diante da adversidade”, diz o cirurgião. Nos 30 dias que se seguiram ao
transplante e com o agravamento da crise, foi preciso driblar os obstáculos.
Sem um biótomo na Santa Casa para medir o grau de rejeição do órgão, a
equipe conseguiu o instrumento emprestado. “Há 15 anos nossa equipe
realiza uma média de 400 cirurgias cardíacas por ano. O transplante é o
coroamento desse trabalho. Estamos prontos para o segundo”, comemora
Santana.

Doador era adolescente de 16 anos

O ex-árbitro de basquetebol Wendell Calixto de Mendonça, de 40 anos, quer
recomeçar a vida em Goiânia por estar mais perto das condições que protejam
sua saúde, tanto a equipe médica quanto a família. Pai de duas crianças, ele
ficou emocionado ao sentir pela primeira vez o pulsar do novo órgão. Ele sabe
que agora carrega no peito um coração jovem, de uma pessoa de 16 anos,
mas não que seu doador, do sexo masculino, era portador de uma má
formação congênita que evoluiu para um Acidente Vascular Cerebral (AVC)
hemorrágico quando jogava futebol.
Coordenador da Central de Transplantes de Goiás, o médico Fernando Castro
comemora o sucesso do transplante. “Foi um esforço muito grande de toda a
equipe. Espero que seja o primeiro de muitos na Santa Casa que já era
referência em transplantes renais”. Atualmente a unidade é a única em Goiás
habilitada pelo SUS para realizar transplantes de coração. Os quatro
procedimento de 2016 foram realizados no Hospital Lúcio Rebelo
descredenciado este ano. O Hospital Geral de Goiânia (HGG) tenta a
habilitação para o procedimento junto ao SUS.
No primeiro semestre, o Brasil registrou recorde no número de doadores, 16%
a mais do que no mesmo período de 2016, segundo o Ministério da Saúde.
Como 1.662 famílias autorizaram a retirada de órgãos de seus entes queridos,
12.086 transplantes puderam ser realizados nos primeiros seis meses de
2017. A lista de espera para transplantes cardíacos conta com 389 pessoas,
quatro delas de Goiás. Em caso de captação no Estado onde o paciente está
inscrito, ele tem prioridade. Foi o que ocorreu no caso de Wendell.
No ano passado a Santa Casa de Goiânia realizou 43 transplantes de rim, de
doadores vivos e mortos. Este ano, até agora 20, exatamente por causa da
crise financeira. A cardiologista Débora Rodrigues cultiva a esperança de
reversão desse quadro. “Os indicadores mostram que de cada dez pessoas,
uma manifesta insuficiência cardíaca. Goiás precisa desse atendimento de
alta complexidade”.

Fonte: O popular