Do ambiente político, dos interesses dos cidadãos e das eleições 2020

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Por Elizeu Lira (*)

Há exatos dez meses das eleições municipais de 2020, se faz necessário uma
reflexão sobre o que esperar delas. Embora não existam nomes colocados para a disputa do cargo de prefeito, certamente existem outros elementos a serem considerados, seja pelos analistas políticos, pelos eleitores e, claro, pelos potenciais candidatos. Estas reflexões são tão mais necessárias quando o ambiente politico ferve, produzindo reações imprevisíveis nos eleitores, causando implicações nos resultados eleitorais – nem sempre positivas para o conjunto da sociedade.

Uma das questões controversas a ser considerada pelos estratégistas das campanhas
majoritárias é a possibilidade ou não da “nacionalização” dos pleitos municípais. A polarização que ocorre em nível federal certamente reflete nos municípios, na militancia partidária e nos candidatos propriamente ditos. Mas, este fenômeno tem relevância o bastante para impactar as eleições de prefeitos? Esclareço: a nacionalização do pleito consiste em trazer para o nível municipal os temas – e problemas e personagens – que estão pautados no âmbito nacional. Se os temas nacionais são objetos de demanda local (por exemplo, politicas públicas na área da saúde formuladas pelos ministérios mas que são executadas pelas prefeituras), certamente que isso será considerado pelos eleitores, fazendo com que ele atente para os candidatos que lhes pareçam mais próximos com o governo central. Se houver a percepção por parte dos eleitores de que a replicação dessas políticas – ou a defesa de determinadas teses ou personagens, com amplitude nacional – não ocorrerá no município, significa que o embate estará limitado às fronteiras municipais. Num caso ou noutro, as estratégias são distintas.

As eleições de 2018 deixaram sequelas profundas no ambiente político do País – Porto Velho não deve ter ficado à margem deste fenômeno, presumo. A polarização política que
resultou delas se acirra a cada dia, em boa medida estimulada pela proximidade das eleições municipais. Há quem defenda que ela interessa ao jogo eleitoral. Como o eleitor percebe isso?

Como isso o influenciará no momento de decidir o voto? Na sua condição de morador de uma cidade onde (quase) tudo está por fazer, o debate nacional terá alguma importância ao avaliar as propostas dos candidatos? Terá ele capacidade de estabelecer prioridades entre o que mais dificulta a sua vida (e de sua família) cotidiana e as políticas emanadas de Brasília? Qual o grau de envolvimento haverá por parte dos eleitores nas eleições? O clima político beligerante terá o papel de fazê-lo participar ou se retrair das questões eleitorais? Se o eleitor optar em participar mais, com qual espirito o fará? Buscará soluções para os problemas que julga importante, ou jogará mais fogo no já incendiário ambiente político? Ou, de outro modo, adotará postura passiva e indiferente, escolhendo o mais simpatico, o que tem mais proximidade ou o que lhe oferecer “mais vantagens imediatas”?

As questões acima são aquelas sobre as quais as campanhas devem se debruçar,
desde já. Embora o tempo de campanha oficial tenha dimuido, a complexidade de uma eleição exige preparativos prévios, em que o planejamento ganha importância central – a menos que os candidatos a tratem como questão de sorte ou como aventura, em que espera que algum fato auspicioso ocorra e lhe favoreça.

Mas, a realidade de uma campanha eleitoral é fria e cientifica. Lanço, a titulo de
provocação, algumas variáveis para comprovar esta realidade. Porto Velho é um município de geografia ampla, em que parte do eleitorado mora em distritos de acesso dificil. Não é possível ganhar a eleição sem ter votos nessas comunidades. O pleito que se aproxima, mesmo sem a definição dos nomes de candidatos, será acirrado, uma vez que a administração do município atrai interesses de diversos grupos políticos e econômicos. Controlar o orçamento municipal é, pois, importante para esses grupos. As eleições municipais em Porto Velho sempre tiveram forte componente mercantil, em que a mobilização popular exige a “contratação” em massa de “militantes” e cabos eleitorais, sem os quais a vitória é dificil. A repetição desta prática criou uma cultura eleitoral perversa, que desobriga os gestores eleitos do cumprimento de promessas de campanha. Já que toda a militância é remunerada não há que se falar em compromisso programático. O que há, isso é fato, é a obrigação do eleito em cumprir os acordos com os apoiadores “institucionais” das suas candidaturas. Esta prática encarece as campanhas, empobrece a atividade política e penaliza a sociedade. Mas, se isto é fato, o que mantêm este
estado de coisas?

As eleições de 2016 e 2018 já foram bastante impactadas pelo fenômeno das redes
sociais. Qual seria a capacidade delas, ainda, produzirem efeitos sobre as campanhas e
eleitorado? A proliferação de fake news acendeu alertas sobre a sua utilidade em tempos de elevada desconfiança na classe política. Os candidatos ainda investirão nelas como fizeram no passado? As redes sociais são os espaços mais utilizados pelos grupos que polarizam,transformando-se em campo de batalha digital dos militantes destes. Haverá, desta forma, espaço para o debate dos problemas municipais nesta arena? É possível utilizar as redes sociais sem entrar no debate nacional, ou se contaminar por ele? Por outro lado, as redes sociais são realidades já entranhadas na vida das pessoas, portanto, não é razoável abdicar delas numa campanha eleitoral, dirão os marqueteiros. Saberiam eles lhes dar funcionalidade em tempos de fakes news?

E, para concluir estas reflexões, insiro na provocação um elemento muito presente nas
eleições municipais de 2016: o “nome novo” como variável de desiquilibrio na disputa eleitoral. É certo que o discurso do novo fez a diferença naquele pleito, pois o atual prefeito é resultado disso. Mas, e agora? Os resultados administrativos obtidos pelo “novo na política” são sólidos o suficientes para influenciar, ainda, na eleição próxima? Qual a relevância de candidaturas novatas para os eleitores? Nome novo, sem experiência política ou administrativa, é atraente o bastante para seduzir o eleitorado? E os partidos, como eles vêem a questão do novo? Cederão lugares à novos nomes ou os caciques usarão de suas prerrogativas e serão os candidatos “naturais” de suas legendas? Existem “nomes novos” com capacidade de produzir fatos e movimentos relevantes no ambiente político do município de Porto Velho? Mais ainda: nomes novos, com estofo para gerenciar uma cidade com a complexidade de Porto Velho teriam motivação para entrar numa disputa acirrada como a que se projeta em 2020?

Estas são variáveis que avalio importante serem consideradas pelos candidatos e suas
assessorias na busca pelo voto. Para os candidatos que não irão à reeleição, ainda existirão as fragilidades da administração atual que, se for fato, fornecerão elementos para discursos de desconstrução a serem utilizados durante a campanha. Estas fragilidades, mais o profissionalismo e a criatividade das campanhas, relativizarão as vantagens de quem disputará as eleições ocupando o cargo. Vamos ao jogo.

(*) Sociólogo, especialista em políticas públicas e planejamento estratégico.

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