Descoberta na Ponta do Abunã primeira paleotoca da Amazônia

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Pesquisadores dentro da paleotoca, labirinto cavado por animais como preguiças e tatus gigantes - Divulgação

Uma equipe da CPRM- Serviço Geológico do Brasil achou a primeira paleotoca da região Amazônica em Ponta do Abunã, em Rondônia. Paleocotocas são labirintos gigantes escavados por animais já extintos, como preguiças e tatus gigantes. No caso de Ponta do Abunã, os especialistas acreditam que o túnel foi escavado por uma preguiça gigante extinta há cerca de 10 mil anos, uma vez que fósseis do mamífero já foram localizadas em regiões próximas. No túnel é possível identificar marcas de garra que podem ser do animal.

A caverna tem estruturas circulares e semicirculares de grandes dimensões, com numerosos túneis interligados e a extensão é ainda indefinida. Inicialmente ela foi pesquisada com o Projeto Geodiversidade de Rondônia (GD-RO), em 2010, que buscava identificar sítios geológicos que possam ser usados como atração turística e favorecer o desenvolvimento do estado de forma sustentável. Os geólogos se interessaram pela enorme caverna e fizeram contato com pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Estadual Paulista (Unes), que descobriram dezenas de paleotocas no Sul do país. Agora, uma equipe coordenada pelo geólogo Amilcar Adamy foi a campo para explorar o local e verificar se, de fato, era uma toca de animal extinto.

A gigantesca estrutura cavernosa chamou atenção pela forma circular e semicircular de grandes dimensões, pelos numerosos túneis interligados e por conter uma extensão ainda indefinida, ou seja, os geólogos ainda não encontraram o FIM do sistema… escavado por animais, que também não deixaram traços de sua existência, tais como esqueletos, etc.

Bem conservada e sem grandes obstáculos à circulação de pessoas, a paleotoca possui marcas de garra que indicam que foi escavada por animais extintos de grande porte da megafauna pleistocênia sul-americana, possivelmente uma preguiça gigante, extinta há cerca de 10 mil anos. A toca encontrada possui uma extensão que passa dos 100 metros, com altura que varia em seu decorrer, chegando a 3,1 metros em alguns lugares, e em outros, 1,5 metros. Apresenta-se bem conservada e, atualmente, é habitada por morcegos e pequenos insetos, mas também pode servir como esconderijo para outros animais, como cotias e até onças.

O Serviço Geológico do Brasil fará estudos complementares para aprofundar o conhecimento sobre a peleotoca descoberta, assim como buscará novas tocas na região. A pesquisa integra o Projeto Geodiversidade de Rondônia que identifica geoturísticos no estado.

A preguiça gigante surgiu na Patagônia e se desenvolveu na América do Sul. Viveram entre 2 milhões e 10 mil anos atrás. Chegaram a migrar para até o Canadá, existindo evidências de que teriam existido até 1.500 a. C. nas ilhas Hispaniola e Cuba. Este animal herbívoro de garras afiadas poderia pesar cinco toneladas e seis metros de altura.

Serão feitos estudos complementares na região para buscar novas tocas, além de detalhar a paleotoca descoberta e realizar escavações de pequeno porte na busca de evidencias fósseis das preguiças (inexistentes até o momento) gigantes e para a determinação da extensão total da caverna.

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No interior da paleotoca, foram encontradas marcas de garras, que ajudaram a identificar o animal produtor. Novos estudos serão feitos para a busca de outras paleotocas na região e a que já foi descoberta será analisada mais profundamente, com a realização de pequenas escavações à procura de evidências fósseis.

Ponta do Abunã fica na divisa de Rondônia com o Acre e com a Bolívia. O local começou a ser explorado no tempo da exploração da borracha na Amazônia, no século XIX. A ocupação inicial foi feita por moradores do Acre, mas o maior fluxo de migrantes ocorreu na década de 70, com a construção da BR-364. Na década de 80 houve disputa entre Rondônia e Acre sobre a posse da área e só na década de 90 foi decidido que a área pertencia ao estado de Rondônia. O estado do Acre teve de retirar os equipamentos públicos que mantinha na região mas, mesmo assim, a relação é maior com o Acre, já que entre Porto Velho, a capital de Rondônia, e Ponta do Abunã há uma barreira natural, que é o rio Madeira.

De acordo com pesquisadores, o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com maior número de paleotocas identificadas. São mais de mil.