De Kátia Abreu para os meninos de Rondônia (*)

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Meus queridos, dancei. Eu que estava na liderança da disputa no Tocantins, fui para o final da fila com uma derrota destruidora sob qualquer análise. O IBOPE me colocava dentro do Palácio Araguaia e eu já sorvia o sabor inigualável de uma grande vitória. Mas… que tiro foi esse? Meu capital político inegavelmente grande, derreteu em horas, e até agora eu procuro o que restou. E até agora nada encontrei que sobrasse.
Derrotas são escolas no educandário da vida. O que eu aprendi? Que os oportunistas serão, todos, enterrados no dia 7 de outubro. Que os encantadores de serpente da política, que não apenas enganam mas desprezam o povo, terão o troco em outubro. Que os políticos que, por décadas, abusaram de seus poderes e locupletaram-se de dinheiro, prazer e soberba serão abatidos nas urnas qual uma formiga indefesa no chão, sob os pés da multidão.

Eu fui oportunista, encantadora de serpentes, abusei, tergiversei, enganei, troquei de partido como troco de sutiã, e acabei por colher o que plantei. Por isso meninos de Rondônia, como meu ex-colega de bancada Valdir Raupp et caterva, preparem-se para refrega. Meu colega do PDT, o senador Acir Gurgacz, está numa aventura sem horizonte, assim como todos aqueles que, durante anos, usaram e abusaram do povo de Rondônia, assim como eu o fiz no Tocantins.

Aqui neste paraíso do Centro-Oeste, quase 50% dos votos foram para o lixo. Recado mais gritante, impossível. Cerca de 20% dos eleitores votou branco ou nulo e 30% sequer saiu de casa. Quem ganha com isso? Os candidatos novos, aqueles com o viço da virgindade na política, pouco conhecidos, alinhados com o tsunami de mudanças clamado pelo povo.

Podem anotar meninos de Rondônia: o fenômeno cruel do Tocantins vai repetir-se aí neste estado maravilhoso como em todo o país. Os eleitores não nos suportam, não nos aguentam mais. São sábios em sua sabedoria popular e, ainda que errem, acertam. Sempre foi assim. E nós os desprezamos, acreditando que são como gado, tocados a vara.

Nós sempre tínhamos a certeza de que, apesar da gritaria delirante, dos panelaços e dos embaraços, manteríamos nossos feudos fétidos, podres e irrigados de corrupção. Deu no que deu, como diria o lendário antropólogo e senador Darcy Ribeiro.

Agora não há alento nem unguento para sarar tanta dor. Só o fel da derrota que, a duras penas, insiste em ensinar-me lições de humildade que desprezei. É por isso meninos de Rondônia, que faço destas linhas meu alerta a todos vocês que sempre desprezaram este povo sofrido em terra dadivosa. Vocês vão levar para os palanques desde apoios religiosos aos trevosos, maldosos. Vão carregar malas de dinheiro, caminhões de eleitores algemados e canhões de soberba, para colherem em outubro o que eu colhi agora. Preparem seus estômagos, porque nem eles vão suportar o amargo da derrota.

(*) José Armando Bueno é jornalista. Teve o privilégio de escrever este artigo psicografado pela alma atormentada da senadora derrotada, nesta madrugada de friagem em Porto Velho.