De como chegamos a esse ponto e como sair do atoleiro

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Por Ronald Pinto

Desde antes das manifestações de 2013 o ataque contra a esquerda e contra  o PT principalmente  já estava em curso.  Acusados de bolivarianos e comunistas,  os petralhas eram responsabilizados por tudo de ruim que acontecia no país, tanto na economia quanto no campo da Moral e dos costumes. Apoiados por uma hegemônica mídia anti-petista, que buscava construir a viabilidade das candidaturas dos partidos liberais de direita, as redes sociais alimentadas competentemente pela extrema-direita, serviram de veículo para induzir habilmente a sua ideologia nas massas.   Na concepção da extrema-direita, tudo que aconteceu no Brasil era responsabilidade de uma esquerda que teria comandado país desde o descobrimento. um legítimo absurdo histórico.

A coalizão de forças populares que sustenta a extrema-direita é formada por insatisfeitos de todos os matizes com a sociedade moderna.  Vai desde os terraplanistas até aos que acreditam na inviabilidade da vacina.  Na realidade nem na época de Savonarola tivemos um retrocesso tão grande.  Afinal Savonarola era apenas um pregador e hoje estamos sendo governados por um pensamento obtuso e obscuro.

Tendo consciência de que não passa de um governo casual que se elegeu às custas de mentiras e de crenças populares absurdas, legitimadas por um astrólogo que se autodenomina filósofo, a extrema-direita procurou apoio militar.  Mas nem mesmo os militares têm condições de sustentar um governo tão retrógrado e obtuso. Seria negar o que aprendem nas academias. Afinal queira ou não a extrema direita, os militares têm conhecimento científico e não poderão apoiar teorias absurdas para além da visão de que o governo popular poderia ter um “projeto comunista”.  Um discurso pra lá de anacrônico que repete as acusações contra Jango na década de 60 do século passado.

O núcleo que assumiu o governo da extrema direita tem três forças: os bolsonaristas (fascistas, alguns policiais militares e milícias), os militares das forças armadas e os evangélicos.  O  judiciário e a mídia tentam restabelecer o seu projeto de uma direita liberal, atacando o conservadorismo moral do bolsonarismo e mimando o seu potencial candidato, o João Dória.

A adesão ao projeto popular no nordeste é habilmente tensionada por Ciro Gomes que tenta, disfarçado de brizolista, retomar o protagonismo tucano.

O governo obscurantista tem um grande inimigo estrutural, a educação!  A educação coloca em xeque as convicções construídas na negação do conhecimento científico.  Para essas pessoas conhecimento científico é tão verdadeiro quanto a ideologia.  A percepção de que a educação, a partir da disseminação do conhecimento, é o caminho para sair do atraso e da ignorância e, portanto, do obscurantismo, a colocou como principal inimiga dos atuais governantes brasileiros.  Por isso os ataques aos professores a pretexto de uma “escola sem partido” e as universidades acusadas de “balbúrdia” são, de pronto, a ação mais focada do governo.

Nesse atoleiro o governo do Brasil abre mão da busca de ciência e tecnologia e parte para a destruição de tudo que possa questionar a doutrina obscurantista da extrema direita.  O que interessa é impor uma instrução limitada à execução capacitada das operações das empresas, tanto em suas máquinas quanto em suas gestões, tirando do alcance popular tudo que possa alimentar uma visão crítica e questionadora dessa ideologia obscurantista.  É o usual cala boca usado por quem não tem argumentos.

Para sair do atoleiro precisamos entender que realmente a educação é a única forma de esclarecer a população sobre o que de fato já está pacificado na ciência.  Precisamos avançar no debate público contra o obscurantismo e sair de uma visão de resistência que aceita o absurdo como uma “narrativa”.   Se continuarmos acreditando que é a nossa verdade contra a deles estamos legitimando o pensamento obscurantista.  Terra plana, vacinas perigosas, criacionismo, etc, não são questão de opinião.

Rir, debochar e sair de grupos onde os memes sobre essas discussões são apresentadas, longe de resolver o problema, mantém a bolha que os isola em convicções absurdas sem questionamento.

Como a extrema-direita já sabe, o caminho para vencê-la é a educação.  Não apenas a educação escolar ou acadêmica, que demora muito a impactar nas massas.  Precisamos investir em educação popular.  Precisamos que a educação popular libertadora transcenda os movimentos sociais e venha para as redes sociais.  Precisamos militar no Twitter, no Whatsapp, no Facebook e no Instagram com muito mais presença e atividade do que fazemos hoje.  Precisamos combater abertamente as mentiras que sustentam o obscurantismo.

O povo esclarecido tem que dialogar com o povo obscurecido!

 

Ronald Pinto, 04 de maio de 2019.