CONFÚCIO E A SUA SUCESSÃO – O SER… E O NADA

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Confúcio Moura senador eleito por Rondônia

 

O governador Confúcio Moura é, sem dúvida alguma, um político carismático e de sorte. A sua carreira política deve muito a esses dois elementos. Duas vezes prefeito de Ariquemes, três vezes deputado federal e duas vezes governador lhe dá, com sobra, a marca de um político vencedor. Junto ao carisma e à sorte inegável, há que se reconhecer, Confúcio possui relativa capacidade administrativa.

Não é exagero afirmar que a história do município de Ariquemes se divide em dois momentos: um antes da administração Confúcio (marcado pela violência, sujeira, serviços públicos precários, bagunça administrativa, desrespeito aos cidadãos), e o outro depois de Confúcio (com organização administrativa, melhoria dos serviços públicos, reestruturação urbana, projetos inclusivos).

A mesma trajetória exitosa é possível lhe atribuir nos três mandatos de deputado federal, uma vez que a sua atuação qualificada no parlamento o alçou a candidato ao Governo do Estado, vencendo a eleição majoritária na primeira disputa da qual participou. Como governador, elevou o patamar da administração do Estado acima da média nacional, fugindo da crise renitente que assola boa parte dos Estados brasileiros, mantendo o pagamento dos servidores rigorosamente em dia, criando um ambiente econômico confiável para os empresários locais e atraindo investimentos externos.

Deflagrou um conjunto de políticas sociais que vão desde habitação popular, passando pela segurança pública até a inclusão produtiva de pequenos produtores rurais, além da titulação de milhares de propriedades que viviam a margem da regularização fundiária. Por tudo isso, foi classificado como um dos melhores governadores do país mais de uma vez e alcançou patamares consideráveis de aprovação popular – além da simpatia de boa parte da mídia nacional.

Alvejado pela sorte, como é comum com os gestores que exercem dois mandatos, Confúcio não foi alvo de desgastes no final da sua gestão. Ao contrário, pode deixar o cargo com aprovação maior ainda do que ao final do primeiro mandato. Diante da sua grandeza política – baseada no seu carisma, sorte e tino administrativo – e da aprovação da sua gestão, seria natural esperar de Confúcio a condução da sua sucessão.

É legitimo que o gestor bem avaliado pela população queira garantir o seu legado pelo maior tempo possível. Isso pode ocorrer de duas formas: ou ele constrói as condições institucionais para que o sucessor, aliado ou adversário, não tenha condições políticas de desconstruir as suas realizações, o que passa, necessariamente, pela firme defesa popular dos seus feitos; ou, de modo mais simples, elege um sucessor que, ao menos por quatro anos, garanta a sobrevida das suas políticas – ou até a sua continuidade e expansão. Além disso, a eleição de um sucessor aliado é a ratificação, por parte da população, de que a gestão que se encerra foi positiva e deve seguir. Essa é a melhor aferição do êxito de um governo.

No entanto, mesmo com todas as virtudes da sua gestão, Confúcio não atuou para que fosse figura relevante no jogo sucessório. Na prática não construiu opções de nomes, não reconheceu o nome escolhido pelo seu partido, relutou em fazer do seu vice o sucessor e, chegado o momento de se desincompatibilizar do cargo para concorrer ao Senado (em que, exatamente pela sua gestão virtuosa, surge como o favorito para a disputa) não dá demonstrações de que a sua sucessão esteja no seu radar político.

De fato, como se o final do seu mandato fosse algo imaginário, distante na sua agenda política, Confúcio espera que o seu carisma e a sorte, mais uma vez, lhe presenteiem como sempre faz com os afortunados.