Com Cemetron já lotado, a abertura de mais comércios por Hildon Chaves prenuncia uma tragédia como a de Manaus

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RETICÊNCIAS POLÍTICAS  –  Por Itamar Ferreira *

Na última sexta-feira (24) a diretora geral do Cemetron, Stella Ângela Zimmerli, hospital de referência no tratamento do coronavírus em Rondônia, alertou o secretário de Saúde, Fernando Máximo, que o hospital já estava com quase 100% dos leitos ocupados.

O maior pronto-socorro do Estado, o João Paulo II, se transformou num grande foco de contaminação do coronavírus, sendo que na quinta-feira (23) já haviam sidos confirmados pela secretaria de saúde estadual 58 casos de servidores infectados e dezenas aguardando confirmação, uma inexplicável demora nos exames.

Observe-se que a situação dramática no João Paulo II veio a público do dia 17 de abril, após um servidor da unidade testou positivo. Mesmo assim, até o momento ainda não foi finalizada a testagem dos profissionais do hospital. Imaginem então as dificuldades da população para conseguir um exame para testar coronavírus.

As autoridades, municipais e estaduais, não demonstraram ainda uma efetiva capacidade de testagem mais ampla sobre o coronavírus, condição exigida mundialmente, junto com capacidade hospitalar, para qualquer flexibilização do isolamento social; bem como não há transparência sobre o número de testes disponíveis, tipo/eficácia, prazos para realização, quantos são feitos diariamente e seus resultados.

Outra preocupação: Porto Velho é uma porta escancarada para “importação” de coronavírus através dos portos fluviais do Rio Madeira, que mantém intensa movimentação de pessoas e mercadorias com Manaus, onde a pandemia já se tornou uma imensa tragédia. Não se houve falar de qualquer política de controle, testagem e isolamento de pessoas oriundas de Manaus.

Ou seja, só estas três variáveis, o principal hospital do Estado para tratamento do coronavírus lotado, a incapacidade do Estado e Município de fazer testes suficientes e a proximidade com a situação de colapso em Manaus, já tornam uma temeridade qualquer medida de flexibilização do isolamento social neste momento.

Mesmo com todas essas notórias deficiências, dentre muitas outras, o prefeito Hildon Chaves optou pela temeridade de autorizar a flexibilização de inúmeras atividades comerciais em Porto Velho.

Na quinta-feira (22) ele autorizou  “I – gráficas; II – papelarias; III – imobiliárias e Seguradoras; IV – concessionárias de automóveis, motocicletas, caminhões e equipamentos pesados, e lojas de veículos novos e semi-novos; V – lavanderias e serviços essenciais de limpeza como limpa fossa; VI – produtos de informática e telefonia; VII – óticas, joalherias e relojoarias; VIII – tabacarias; IX – salões de cabelereiro, clínicas de estética, barbearias e lojas de cosméticos;

A partir desta segunda-feira (27) o intrépido e ousado prefeito Hildon, colocando em risco a população, ampliará ainda mais a flexibilização autorizando “I – comércio de confecções em geral, incluindo armarinhos e aviamentos; II – comércio de Calçados em geral; III – eletro eletrônicos, móveis, e utilidades domésticas; IV – Autoescolas e Despachantes

 

Pelo visto o prefeito portovelhense quer ser uma espécie de Odorico Paraguaçu, aquele folclórico personagem da antiga novela “O Bem Amado”, que tinha obsessão por realizar enterro no cemitério da cidade, não um como no folhetim, mas dezenas ou centenas, numa “competição” macabra com Manaus.

* Itamar Ferreira é dirigente sindical e advogado.