Coluna do RK- Bastidores da Política Nacional e Regional

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Por Roberto Kuppê (*)

                                    Kim, açaí é da floresta!

O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), se esbaldou tomando açaí no mercado do Ver-o-Peso, em Belém do Pará. O deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP) também foi. Gostaram, né? Com farinha de mandioca, tapioca. Então é importante preservar a floresta amazônica, as tradições e os povos indígenas. No Pará, caros Kim e Alexis, é o estado que mais se mata ativistas e agricultores. Não por acaso a missionaria norte-americana Doroty Stang foi assassinada em 2005, em Anapu.

Coroné atrasado!

Sabe o leite derramado? É o que o deputado federal coronel Chrisóstomo (PSL-RO), está pretendendo chorar sobre, ao propor uma comissão da Câmara dos Deputados para averiguar a barragem que se rompeu na região de Machadinho do Oeste (RO). Caro deputado, este articulista alertou quase dois meses antes que isso poderia ocorrer. E agora, alerta-se de novo: tem mais cinco barragens sob risco de rompimento. Melhor averiguar estas, do que a que já rompeu.

Toffoli, sob forte pressão

Parece que o ministro presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, está agindo sob forte pressão dos militares para não libertar Lula. E vai além, elogiando a atuação dos milicos no governo (que governo?). Ele afirmou neste sábado (6) que os “militares vêm desempenhando um papel de excelência, muito significativo” no governo de Jair Bolsonaro. Em debate da Brazil Conference, evento organizado por alunos da universidade de Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos, Toffoli refutou a ideia de uma intervenção militar. “Não temos que temer uma solução militar, não haverá isso, os militares não querem, eles querem ajudar o país”, disse o ministro, que participou do painel Justiça: O Papel do Supremo Tribunal Federal, ao lado da senadora Kátia Abreu (PDT-TO), moderado por Oscar Vilhena, diretor da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. Segundo Toffoli, o desgaste institucional gerado pela permanência dos militares por 20 anos no poder, durante a ditadura militar (1964-1985), resultou em uma visão hostil sobre eles. “E na verdade os militares são extremamente preparados, competentes, leais e hierárquicos”. Isso significa, que, se depender do STF, Lula jamais sairá da prisão.

Feminicídio cresce

Impressionante como o número de feminicídio aumentou no início do governo Bolsonaro. É como se feminicidas estivessem autorizados a matar. O mais impressionante é que nada está  sendo feito para reduzir o índice. Só se fala em armar a população, o que poderá potencializar ainda mais o feminicídio. Como reduzir? Aumentando a pena. Prisão perpétua, inclusive para outros crimes hediondos. Mas, sabe por que jamais isso vai ocorrer? Porque a maioria dos congressistas é machista e muitos deles, poderiam ser atingidos.

                                        Lula, um ano preso

Um bandido, um facínora, um assassino, um serial killer, um sanguinário ditador? Não. Prenderam o maior presidente que este País já teve. Não tem comparação com outros. Lula revolucionou o Brasil. Tirou milhões da pobreza. Foi impedido de se candidatar à presidência, para elegerem um idiota, imbecil, que não sabe fazer nada a não ser trazer problemas para o Brasil. Cem dias de governo e Bolsonaro só destruiu benefícios e conquistas do trabalhador. A Educação que deveria ser o carro chefe, está relegada às traças colombianas. Fugiu dos debates porque não sabia o que dizer. E, pela primeira vez, ele acertou, falou algo coerente, sincero: “Eu não nasci para ser presidente”. Então é melhor jair saindo de fininho.

                           O desemprego na era Lula e Dilma

Os dados do final dos governos Fernando Henrique (10,5% em dezembro de 2002) e Lula (5,3% em dezembro de 2010) e do final do primeiro mandato de Dilma (4,3% em dezembro de 2014) foram extraídos da Pesquisa Mensal do Emprego, feita pelo IBGE.

 

                                 É verdade estes bilhetes do Lula

Um ano se passou desde que Luiz Inácio Lula da Silva deixou São Bernardo para tornar-se refém de uma prisão política em Curitiba. Desde que foi trazido ao Paraná, Lula assistiu o país que ajudou a construir entrar em colapso. Viu, do isolamento, a esperança do povo brasileiro ser sequestrada com o impedimento de sua candidatura, foi impedido de falar, de conceder entrevistas, de deixar a prisão mesmo na posse de um Habeas Corpus, de se despedir do irmão. Viu o juiz que o condenou ser premiado com um ministério por aquele que figurava o segundo lugar nas pesquisas, atrás apenas do próprio Luiz Inácio.

Aos 73 anos, Lula deixou a prisão apenas duas vezes: para prestar depoimento e para dizer adeus ao neto de 7 anos, com quem esteve pela última vez em uma cela. A seguir, um recorte do que o ex-presidente sentiu ao longo dos últimos 365 dias.

1 – Carta à Vigília Lula Livre – 18/04/2018 – “Queridos companheiros e companheiras, vocês são o meu grito de liberdade todo dia. Se eu não tivesse feito nada na vida e tivesse construído com vocês essa amizade, já me faria um homem realizado. Por vocês valeu a pena nascer e por vocês valerá a pena morrer. Lula”

Quase um ano após o bilhete de Lula, a Vigília permanece reunida em frente à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Por lá já passaram ex-chefes de Estado, prêmios Nobel da Paz, milhares de lideranças nacionais e internacionais em uma espécie de romaria que resiste às recorrentes tentativas de despejo e intimidação, em solidariedade a Lula e em luta diária por sua libertação.

2 – Carta a Gleisi Hoffmann, presidenta do PT – 08/05/18 – “Os meus acusadores sabem que sou inocente. Procuradores, juiz, e Tribunal TRF4. Eu sou inocente. Os meus advogados sabem que sou inocente, a maioria do povo sabe que sou inocente. Se eu aceitar a ideia de não ser candidato estarei assumindo que cometi crime. NÃO COMETI NENHUM CRIME”

Em maio, Lula já sabia que sua prisão tinha como objetivo impedir sua eleição. Apoiado pelo PT, o ex-presidente manteve sua candidatura até o último recurso.

3 – Carta à José Chrispiniano, seu assessor de imprensa – 25/05/18 – “A única chance de evitar que o Lula seja candidato é rasgando a Constituição e ponto final. Temos que chegar fortes em agosto. Abraço companheiro, até a vitória. L”

Em 31 de agosto, três meses depois, o TSE vetaria a candidatura de Lula, mesmo após decisão da ONU que garantia o direito do ex-presidente concorrer ao cargo.

4 – Carta à Marco Aurélio Ribeiro, seu assessor – 01/06/2018 – “Telefone para os amigos e amigas dizendo que estou bem, mas com saudades”

Na época do recado, Lula completaria dois meses de cárcere, limitado a receber a visita de apenas dois amigos por semana.

5 – Carta a Edinho Silva, amigo e prefeito de Araraquara (SP) – 26/06/18 – “Lembre-se. Eu tenho 72 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20. Edinho, eu sempre acreditei que todo processo do golpe e Lava Jato tinha como interesse principal a campanha de 2018, era preciso tirar o Lula, o que eles não contavam era com uma pequena coisa chamada de Povo, que está demonstrando muita garra”

No trecho da carta, Lula brinca com o amigo repetindo a famosa frase sobre sua energia e disposição. Ressalta a insistência do povo em escolhê-lo como representante. Mesmo preso injustamente, Lula cresceu 15% nas pesquisas, alcançando a possibilidade de vencer no 1º turno. Até que foi impedido.

6 – Carta a Emídio de Souza, dirigente nacional do PT – 28/06/2018 – “Emídio, querido, o PT e os movimentos sociais precisam dizer ao Brasil: eu não quero favor. Julguem o mérito. Quero minha inocência. A Polícia Federal da Lava Jato, o Ministério Público da Lava Jato, o senhor Juiz Sérgio Moro, os juízes do TRF4 tem que mostrar uma prova material do crime que eles dizem que cometi. Até a Globo pode ser desafiada e os empresários. Eu desafio o mundo a mostrar que crime eu fiz” 

Ao advogado e amigo, Lula ressalta que não estava defendendo um privilégio, mas sim exigindo seu direito a um julgamento justo. E, ao defender sua inocência, volta a cobrar provas de qualquer ato ilícito que tenha cometido.

7 – Carta a Wagner Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC – 24/07/18 – “Os adversários sabem que quando governei o Brasil foi o melhor momento da nossa história, por isso não querem que eu possa ser candidato. O Imperador Dom Pedro I criou o Dia do Fico. E eu vou criar o Dia do Volto para junto com o povo fazer o Brasil feliz outra vez”

Às vésperas do início da campanha presidencial, Lula assistia uma intensa campanha midiática contra seu registro, enquanto via crescer suas intenções de voto nas pesquisas eleitorais.

8 – Carta à equipe em Curitiba – 17/08/18 – “A guerra é de alta intensidade, não temos tempo a perder. Segunda tem mais. Abraços, L.”

Dois dias após o registro no TSE da chapa Lula/Haddad, o ex-presidente deu o tom do que seriam os próximos meses.

9 – Carta a Marco Aurélio Ribeiro, assessor – 29/08/18 – “Ligue para o Haddad, que ele não se deixe abater pelo denuncismo. Cabeça erguida e voz forte”

Lula prepara o então vice, Fernando Haddad, para enfrentar a perseguição ao partido. Dias depois, o Ministério Público de São Paulo acusaria Haddad de participar de um esquema de corrupção e lavagem. O caso, levantado em plena campanha eleitoral, não se sustentava e foi arquivado em fevereiro deste ano.

 10 – Carta à coordenação da campanha – 04/09/2018 – “Eu não pude falar nada sobre a decisão da sexta-feira, não tinha com quem falar. Preciso falar alguma coisa pois dia 11 tenho que decidir.”

Quatro dias após ter sua candidatura barrada, Lula narra o fim de semana no isolamento e relata a preocupação com o prazo dado pelo TSE para composição de nova chapa.

11 – Carta a Ricardo Amaral, seu assessor de imprensa – 29/09/19 – “Eu sou a primeira vítima de censura desde o fim do Regime Militar e o que é grave é que a censura foi praticada por um membro de uma instituição que deveria existir para evitar a censura.”

Ao jornalista e assessor Ricardo Amaral, Lula relata a indignação com a suspensão da liminar que autorizou sua entrevista aos jornalistas Mônica Bergamo e Florestan Fernandes. No bilhete a Amaral, que estava em Curitiba para acompanhar a entrevista, Lula repudia a derrubada de garantias constitucionais.

12 – Carta a Marco Aurélio, assessor – 23/10/18 – “Quando você fala que não tinha assunto para me escrever, o sintoma é de desanimo. Levanta a cabeça, se tiver que perder ponha dignidade na derrota. Marcola, aprenda uma lição, a gente só perde uma luta se não participa.”

Às vésperas do 2º turno, Lula lembra que perdeu quatro eleições até tornar-se o presidente com maior aprovação da história e incentiva a equipe a manter a cabeça erguida.

13 – Carta a Neudicleia de Oliveira, da coordenação nacional do MAB e membro da Vigília Lula Livre – 10/11/18 – “Quarta-feira tenho depoimento e as mentiras continuam. Agora é uma chácara que não é minha, depois o terreno do Instituto que não é do Instituto e, assim, de mentira em mentira eu vou sendo julgado. Vocês são minha resistência. Obrigado, Lula”

Às vésperas de deixar a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba pela primeira vez para prestar depoimento, Lula enviou uma carta à coordenadora nacional do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e membro da Vigília Lula Livre, Neudicleia de Oliveira. No dia 14 de novembro, a Vigília se deslocaria para a porta da Justiça Federal em Curitiba, onde Lula prestaria depoimento à juíza substituta de Sérgio Moro, Gabriela Hardt, no processo do sítio de Atibaia. Menos de três meses depois, Lula foi condenado mais uma vez, em uma sentença apressada e repleta de erros.

14 – Carta a Dilma Rousseff, ex-presidenta da República – 14/12/18 – “Dilma, meu lema agora é: Não troco a minha dignidade pela minha liberdade. Feliz Natal”

Ao completar 71 anos, em 14 de dezembro, Dilma recebeu uma emocionante carta do amigo Lula. No texto, o ex-presidente repetiu a principal máxima que rege sua resistência no cárcere. Dias mais tarde, Lula passaria o Natal sozinho, sem direito à ceia, mas rodeado por mais de mil apoiadores concentrados na Vigília Lula Livre. 

15 – Carta do escritor argentino Bruno Bimbi – 16/01/19 – “Lamento que você esteja deixando o Brasil com desesperança. Bruno, eu sonhei que um outro mundo era possível, quase chegamos lá, e agora eles estão destruindo nossas conquistas”

Lula em resposta à carta do jornalista e escritor Bruno Bimbi, autor do livro O Fim do Armário, que escreveu a Lula para manifestar solidariedade do povo argentino e dizer que estava deixando o Brasil após a guinada autoritária com a posse de Jair Bolsonaro.

16 – Carta a Fabiano Leitão e Rodrigo Pilha – 18/01/2019 – “Querido Fabiano e Pilha, soube dos acontecimentos em Brasília. Eles precisam aprender que democracia não é um pacto de silêncio, mas sim, uma sociedade em movimento em busca da liberdade. Que toquem os trompetistas do Brasil inteiro para acorda-los para a realidade.”

Ao saber que Fabiano Leitão, conhecido como O Trompetista, e o blogueiro Rodrigo Pilha haviam sido conduzidos à delegacia por protestarem contra Jair Bolsonaro durante visita do presidente argentino Maurício Macri ao Brasil, Lula escreveu um recado de solidariedade e fez questão de lembrar aos que estão no poder o barulho da democracia.

17 – Carta ao jornalista Gustavo Conde – 11/02/19 – “Querido Conde. Obrigado pela aula de política, defendendo o PT e a importância do significado do PT na política brasileira. O PT tem todos os defeitos quem um partido pode ter, mas é o mais importante partido de esquerda da América Latina.”

Lula sobre o aniversário de 39 anos do partido que ajudou a fundar.

18 – Carta ao escritor Fernando Morais, seu biógrafo – 22/02/19 – Fernando, não podemos permitir a submissão do Brasil aos EUA. Não podemos entregar o Brasil ao Imperialismo, lutar pela soberania é demonstração de patriotismo e dignidade. Fernando, quando sua netinha perguntar se eu vou ser solto, diga para ela que estou livre em espírito e pensamento, meu coração está livre. E que ela se sinta beijada na testa, todas as noites, quando ela está dormindo. Caro Fernando, acredite. O amor sempre vencerá. A verdade sempre vencerá. Nós venceremos porque temos a verdade.”

Na mensagem, Lula repudia a subordinação do governo brasileiro aos Estados Unidos e sai em defesa da soberania nacional. E manda um recado a neta de Morais, Helena, que costuma perguntar ao avô quando Lula será livre.

19 – Carta a Nicole Briones, sua assessora de comunicação –  “Não existem palavras para explicar a morte ou para reduzir o sofrimento causado pela morte. Nicole, o importante é você colocar todas as lembranças boas, os bons momentos de vocês, na sua memória, como se fosse um pen drive. Quando sentir saudades, assista o pen drive, porque certamente ele vai assistir com você.”

Lula sobre formas de encarar o luto. Em carta de condolências a assessora pela perda do avô, Lula aborda um sentimento que se viu obrigado a conviver no cárcere, com a perda do irmão Vavá, do neto Arthur e do amigo Sigmaringa Seixas.

20 – Carta a Maria Victoria Benevides – 26/02/2019 – “Querida Maria Victória, quando um homem tem consciência do que lhe está acontecendo, sabendo os objetivos políticos dos inimigos, ele não sofre com a perseguição. Querida Maria Victória, estou bem. A carne está presa numa solitária, mas a consciência, o espírito e o coração estão livres, vou provar que o Moro e os que me acusaram são mentirosos e, pode levar muito tempo, mas vencerei.”

Em carta a amiga, Lula lembra que apesar de preso, está livre pela consciência de sua inocência.

21 – Carta a atriz Juliana Baroni – 27/03/19 – “Querida Juliana, estou tranquilo porque tenho consciência do que está acontecendo no Brasil, e preocupado com o nosso povo que não merece sofrer. Nem o Moro, nem o Dallagnol tem o sono tranquilo que tenho, eles tem a consciência pesada”

Em resposta a carta de Juliana, Lula fala de sua maior preocupação: o Brasil.

22 – Carta a Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula – 05/04/2019 – “Querido Paulo Okamotto. Parabéns pelo leilão, foi um sucesso, sobretudo pelo clima que estava ótimo.”

Ao amigo, Lula agradece pela organização do leilão de fotografias autografadas de sua carreira política. Doadas pelo coletivo Fotógrafos pela Democracia, as fotos terão a renda revertida para a manutenção das atividades do Instituto Lula, após ser quase inviabilizado pela perseguição ao ex-presidente.

23 – Carta aos funcionários do Instituto Lula – “Companheiros do Instituto. Estou morrendo de saudades de todos e todas. Saudade da comida das meninas da cozinha. Saudade dos esporros diários para impressionar vocês. Agora é que tenho certeza do que vocês representam”

 

 

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político