Chico Mendes e o seu legado pela luta da preservação da floresta Amazônica

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Relembre a história e o legado do ativista ambiental Chico Mendes, assassinado há quase 32 anos

De acordo com o relatório anual da Global Witness, publicado em 2019, o Brasil foi o quarto país que mais matou ativistas ambientais, sendo cerca de 20 vítimas em 2018. Em terceiro lugar está a Índia com 23, em segundo a Colômbia com 24 e em primeiro lugar está as Filipinas com 30 mortes.

“É um fenômeno que pode ser visto em todas as partes do mundo. Os defensores do meio ambiente e da terra, dos quais um número significativo são representantes dos povos indígenas, são considerados terroristas, criminosos ou delinquentes por defenderem seus direitos”, denuncia Vicky Tauli-Corpuz, relatora-especial sobre os direitos dos povos indígenas da Organização das Nações Unidas (ONU).

Esta é uma realidade que também atingiu Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, um seringueiro, sindicalista e ativista ambiental brasileiro, assassinado em 1988 e que morreu em defesa do ideal da preservação da floresta Amazônica.

Nascido em Xapuri, no estado do Acre, Chico criou na década de 70, enquanto ocupava o cargo de secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, os “empates”, quando toda a comunidade se unia para fazer barreiras com o próprio corpo nas áreas ameaçadas de destruição pelos serralheiros e fazendeiros e impedir o desmatamento.

 

Na mesma época Chico iniciou na carreira política como vereador pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e em 1982 candidatou-se a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mas não se elegeu. Já em 1985, ele liderou o Primeiro Encontro Nacional de Seringueiros, no qual apresentou a proposta da “União dos Povos da Floresta”, um documento que pedia pela união dos indígenas, seringueiros e trabalhadores rurais.

Com isso, o ativista ganhou uma repercussão internacional e em 1987 discursou na reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que ocorreu em Miami, Estados Unidos. Na ocasião, Chico denunciou a destruição da floresta e pediu a suspensão do financiamento da construção da BR- 364, que iria de Rondônia ao Acre e, assim, no mesmo ano ele recebeu em Xapuri uma comissão da Organização das Nações Unidas (ONU) constatando que o que Chico dizia era verdade. Após dois meses, o BID suspendeu o financiamento da BR e exigiu do governo brasileiro um estudo do impacto ambiental na região. Além disso, ele recebeu da ONU o Prêmio Global 500, de Preservação Ambiental, e uma Medalha de Meio Ambiente da Better World Society.

“Foi essa matriz ideológica formada pelo sindicalismo, pela defesa dos direitos humanos, pelo respeito à floresta marcou a identidade de Chico Mendes como líder político e que transcendeu sua localidade e conquistou o respeito do internacional”, afirma o Memorial Chico Mendes, criado no dia 12 de julho de 1996 pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).

‘’Documentário ‘Chico Mendes: Eu quero Viver’ dirigido por Adrian Cowell e Vicente Rios.

Segundo o jornalista Zuenir Ventura, no livro “Chico Mendes, crime e castigo” lançado em 2003, Chico desenvolveu táticas  pacíficas de resistência para defender a floresta mas, de qualquer forma, o seu trabalho era motivo de revolta por parte dos fazendeiros que o ameaçavam de morte. Essa situação se intensificou em 1988 quando se discutia a criação de reservas extrativistas e as terras do fazendeiro Darly Alves foram desapropriadas.

“São espaços territoriais protegidos cujo objetivo é a proteção dos meios de vida e a cultura de populações tradicionais, bem como assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da área. O sustento destas populações se baseia no extrativismo e, de modo complementar, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte”, diz o Instituto Socioambiental (ISA).

As ameaças de morte continuaram e o ativista denunciou e pediu proteção às autoridades, mas isso não ocorreu. No dia 22 de dezembro, Chico Mendes foi assassinado a mando de Darly. Logo o fato repercutiu na imprensa brasileira e internacional e dois anos depois os criminosos foram condenados no judiciário.

Para o memorial o principal legado deixado por Chico são as reservas extrativistas, criadas em 1990, que era um sonho de Chico e é a primeira iniciativa a unir a proteção do meio ambiente e a justiça social, o que viria a ser conhecido como desenvolvimento sustentável na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92.

Segundo o Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC), até julho de 2015, o Brasil possuía 90 reservas extrativistas no país, sendo 62 federais e 28 estaduais. Um exemplo delas é a Reserva Extrativista Chico Mendes, uma área de 970.570 hectares localizada no estado do Acre.

A ‘Pessoa do Ano’ de 2019

Recentemente uma outra ativista ganhou o mundo promovendo os seus ideais, a jovem de 16 anos Greta Thunberg, que foi escolhida em 2019 como a ‘Pessoa do Ano’ pela revista Time.

Desde 2018 Greta, ativista do clima, vem chamando a atenção do mundo e da mídia. Em agosto do mesmo ano ela seguiu sozinha para frente do prédio que abriga o parlamento da Suécia, carregando um cartaz que dizia “Greve escolar pelo clima” e panfletos com dados científicos sobre o aquecimento do planeta. Já em 2019, Greta estava acompanhada de cerca de 1,5 milhão de estudantes que tomaram as ruas ao redor do mundo em uma marcha histórica pelo clima, denominada como #schoolstrike4climate.

Em agosto do mesmo, Greta discursou na Cúpula da Clima da ONU e é considerada uma das principais líderes do movimento contra a crise climática. Dessa forma, o jornal El País nomeou como “Geração Greta”, adolescentes e jovens adultos preocupados com o futuro do planeta e que podem ser uma esperança para que as previsões mais preocupantes do aquecimento global possam ser revertidas.

Greta gravou um vídeo pedindo ajuda internacional a Manaus contra a pandemia do novo coronavírus e em defesa da Amazônia, após um apelo feito pelo prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto. O vídeo faz parte da campanha S.O.S Amazônia do movimento Fridays For Future e outros jovens ativistas, incluindo brasileiros, também participaram dele.

Fonte: Mercadizar