A GESTÃO EFICIENTE DA SAÚDE VAI ALÉM DE GERENCIAR PRÉDIOS, INSUMOS E EQUIPAMENTOS

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Pimentel vai conhecer a Saúde de Goiás

Gerir a saúde pública é um sacerdócio tão importante quanto o juramento de um médico a Hipócrates ao iniciar sua carreira profissional

Por Williames Pimentel (*)

A pandemia causada pelo novo coronavírus tem demonstrado uma fragilidade que não é exatamente sistêmica do setor de saúde: é do sistema político que orienta a tomada de decisões na área, estas sim, afetas à saúde que será oferecida à população. A descoordenação entre os diferentes entes que operam o Sistema Único de Saúde – SUS, evidente desde o recrudescimento da pandemia, é, a meu ver, a razão central para que chegássemos aonde chegamos.

Não há saúde pública eficiente sem atenção básica (municípios), sem a média (municípios e estados) e a alta complexidade (estados) e, sobretudo, sem coordenação geral (união) entre elas.   O SUS é único, atende a federação com protocolos unificados, utilizados desde o menor município do Rio Grande do Sul, à comunidade mais remota do Amapá, passando por grandes centros urbanos do Sudeste. Um médico pode atuar em todos os estados do País, porque os procedimentos são os mesmos em qualquer destes lugares. Não existe um SUS nos municípios, outro nos estados e um outro na União.É esta a essência que faz do SUS a grandiosidade que o torna um dos sistemas de saúde mais eficientes do mundo.

No entanto, há muito ouço que o problema  do SUS não é a escassez de recursos, e sim a falta de gestão qualificada. Como gestor da área de saúde, digo que isso é meia verdade. Num País continental como o Brasil, sujeito ainda à ocorrências de endemias e surtos de doenças tropicais  e no estágio econômico em que nos encontramos, dinheiro será sempre necessário. Mas, como disse no titulo deste artigo, a saúde não é feita apenas por prédios, equipamentos e insumos; é feita, sobretudo por gente, profissionais de várias especialidades, oriundas dos mais variados extratos sociais, crenças, culturas e, não esqueçamos, valores e visões de mundo. Estas pessoas, com suas expectativas, projetos e sonhos têm nas carreiras os meios para realizá-los. A gestão deste elemento exige mais do que conhecimentos na área de recursos humanos, processo licitatórios, construção de prédios, orçamentos e finanças. Exige sacerdócio.

Assim, num cipoal institucional necessário ao enfrentamento de uma pandemia com a severidade do coronavírus, o componente político-ideológico deveria ser evitado a todo custo, em particular no espaço institucional responsável pelo seu gerenciamento. Ao permitir que este componente fosse uma variável no processo, os envolvidos viram a unidade do Sistema fragilizar-se. Os resultados foram sucessivas idas e vindas, avanços e retrocessos de todo tipo, em todos os níveis, em todos os momentos, a cada decisão tomada. Aqui se combinaram, ao mesmo tempo, a escassez de recursos com as fragilidades gerenciais e de gestão, potencializadas pela variável político-ideológico. Desta forma, o sentimento emitido pelas autoridades de saúde envolvidas no gerenciamento da pandemia é de que a unidade do Sistema é um valor relativo.

Com a descoordenação no espaço gerencial do Sistema, o enfrentamento da pandemia foi transferido, forçosamente, aos estados e municípios. No nível estadual, o gerenciamento da crise, como no nível nacional, exigia firmeza, capacidade gerencial, clareza de objetivos, capacidade operacional, unidade de propósito e…, pasmem, sacerdócio!

No nível federal, a interlocução se dá entre a União e 26 estados, mais o Distrito Federal. No caso do estado de Rondônia, a complexidade institucional aumenta, pois o dialogo é entre o governo estadual e mais 52 municípios, incluindo Porto Velho. Neste cenário, a eficiência das ações depende ainda mais da eficiência dos responsáveis pelo gerenciamento da crise, pela autonomia operacional, pela capacidade de articulação, pela disponibilidade orçamentária e, sobretudo, de… sacerdócio!

Entretanto, nada disso teria sentido ou valeria algo se o componente político-ideológico estiver presente, com os seus interesses específicos e geralmente distanciados da racionalidade cientifica, alheios às necessidades coletivas, desprezo pelos recursos públicos e, o mais grave, desprovidos de humanidade.

Por fim, a crise deixou evidente que o SUS, na sua grandeza, exige unidade institucional e que a escassez de recursos, por si só, não é a única responsável pelas mortes produzidas pelo novo coronavírus.

(*) Williames Pimentel, 58 anos, advogado de formação, servidor público estadual, ex-secretário estadual de Saúde. Foi secretário municipal de Saúde de Porto Velho por duas vezes, Ex-Diretor da Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, Gerente do Programa VIGISUS, do Banco Mundial, que reestruturou a Política Nacional de Saúde Indígena – PNSI.