A fantástica fábrica de memes

Por Roberto Kuppê (*)

Não lembro de uma era tão divertida como a que estamos vivenciando hoje. Na época da ditadura militar a revista Pasquim fazia a festa dos intelectuais da época, retratando de forma humorada os políticos e os militares que comandavam o país.

Em vez de charges ou cartuns, a internet foi invadida por memes, que, neste governo que finda, foi um verdadeiro dilúvio. Comecemos pelos produzidos recentemente pelos maiores fabricantes de memes do País, a família Bolsonaro, que se forem cobrar direitos autorais, vão ficar bilionários.

Claro, não tem graça nenhuma ficar em frente a um quartel pedindo a volta da ditadura militar, mas, convenhamos, é engraçado alguém fazer manifestações pela liberdade, pedindo exatamente o contrário.

O filho 02 de Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), está no Catar, assistindo aos jogos do Brasil pela Copa do Mundo. Sim, mas na agenda oficial dele, consta que ele está em Brasília, trabalhando normalmente na Câmara dos Deputados. Pego em flagrante pelas câmeras da Globo (Globo lixo), se divertindo no camarote da CBF enquanto patriotários pegam chuva, sol e Covid em frente aos quartéis. Pegou super mal. Momento seguinte (eis os memes chegando), ele disse que foi levar pen drives contendo vídeos com denúncias contra o STF, TSE e contra Lula.

Claro, virou piada internacional. Dudu Bananinha como é conhecido por não ter (segundo a experiente jornalista Patrícia Lelis), um instrumento sexual satisfatório, mostrou ao mundo que é um verdadeiro imbecil mesmo. Com uns pen drives antigos, da marca Laser, ele gravou vídeo se explicando pro gado. Nem o gado que acredita até em ET, não caiu nessa lorota. Muitos deixaram os acampamentos após a divulgação do turismo de Dudu no Catar, enquanto eles eram vítimas de bullying.

Fazendo um parêntesis, aproveitando o assunto do momento, a Copa do Mundo, as manifestações anti-democráticas ora em curso, equivalem à Bolívia sofrer uma goleada do Brasil e contestar os gols nos tribunais desportivos. No caso político, Lula vinha sendo o favorito desde 2017, antes mesmo de ser condenado e preso injustamente. Antes mesmo do advento do bolsonarismo que não existia até então.

Em 2018 Lula foi preso para não sair candidato e Bolsonaro venceu facilmente a Fernando Haddad (PT) que não suportou a avalanche de fake news. Mesmo preso, Lula continuou forte e, ao deixar a prisão em Curitiba em novembro de 2019, foi automaticamente lançado à sucessão de Bolsonaro em 2022. Lula liderou as pesquisas desde então, culminando com a vitória dele, ainda que no segundo turno.

Bolsonaro que fez um péssimo governo, nunca foi favorito e agora contesta os resultados. Como assim? O que ele acha que fez para se considerar reeleito? Muito pelo contrário, não fez nada de positivo. O resultado tinha que ser este, a derrota. Está claro para todos, menos para os seguidores dele. Uma insanidade, para dizer o mínimo.

Essa insanidade, porém, avança o razoável e parte para ações nada republicanas e muito menos democráticas. Além de divertidos memes, alguns manifestantes sem causa estão partindo para o terrorismo, para as ameaças de morte e, para a aniquilação total da democracia.

Quer saber da última demonstração de insanidade dos manifestantes? Está chovendo muito nos locais onde eles estão, verdadeira tempestade, como se fosse um recado de Deus (vão para casa). Mas, entre eles, estão justificando as fortes chuvas como ação do TSE, Xandão e até do PT, que acionaram as antenas HAARP para provocar esses efeitos climáticos. As antenas Haarp (High Frequency Active Auroral Research Program) são uma arma geofísica dos Estados Unidos. “Os caras estão mandando chuva aí… Haarp, são poucos hoje os que não sabem o que são antenas Haarp, viu. O povo não é mais besta. A gente sabe que é antenas Haarp e que a chuva e esse tempo não é por causa de aquecimento global nem peido de vaca, são antenas Haarp”, disse uma bolsonarista (foto) pegando chuva.

Ao contrário do que diz a bolsonarista, o projeto Haarp, ou Programa de Investigação de Aurora Ativa de Alta Frequência, é um trabalho da Força Aérea dos Estados Unidos junto da Marinha e da Universidade do Alasca. O objetivo é “entender, simular e controlar os processos ionosféricos que poderiam mudar o funcionamento das comunicações e sistemas de vigilância”.

Memes, memes e mais memes. Do cara pendurado na frente de um caminhão em movimento, do Hino Nacional ao pneu, do deputado estadual com cara de cachorro molhado, ao próprio presidente Bolsonaro, vamos sentir falta deste governo. Nunca rimos tanto. Mesmo com as atitudes terroristas de alguns.

Memes e política a parte, vestir-se de verde amarelo, se dizer patriota e torcer contra o Brasil na Copa do Mundo é algo que não tem precedentes em época nenhuma. Nem mesmo durante a ditadura militar, quando o Brasil foi tri-campeão em 1970. Todos pararam para assistir aos jogos, para em seguida, os militares continuarem com as torturas e mortes.

Naquele ano, o então presidente Médici enxergava na primeira Copa que seria transmitida ao vivo pela TV no país a oportunidade de ofuscar o endurecimento da repressão em seu início de Governo. Apropriando-se de campanhas ufanistas, sobretudo com o jingle “Pra frente Brasil”, Médici colou sua imagem no escrete nacional ao evocar o patriotismo de torcer pela seleção.  O Brasil foi tri, Pelé posou ao lado de Médice e a ditadura militar ganhou mais força.

A propósito, onde você que tem mais de 60 anos de idade, estava durante a Copa de 1970? Eu estava em Porto Velho. Não tinha TV ainda em Rondônia. Assisti a alguns jogos com meses de atraso, no Cine Brasil, que passavam antes dos filmes serem exibidos.

(*) Roberto Kuppê é jornalista e articulista político