A ELEIÇÃO DOS EXTREMOS, DOS ERROS DAS ELITES E DAS ILUSÕES PERDIDAS

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Elizeu Lima, articulista

Por Elizeu Lira

Dediquei-me nos últimos três dias a ler artigos, resenhas e opiniões sobre o ambiente
político do País, na busca de encontrar indícios que comprovassem a tese de quê a
eleição de 2018 não pacificará a nação. Os candidatos a presidentes com maior chance
de ir ao segundo turno representam posições opostas no espectro político, no conteúdo e
no modo de ver o mundo. De qualquer forma, ambos carregam consigo legiões de
simpatizantes e seguidores aguerridos. Somados, os dois candidatos que lideram as
pesquisas eleitorais possuem 53% das intenções de votos. Não é pouca coisa.
No universo mais plural das análises políticas formuladas por respeitados jornalistas da
grande imprensa, nos últimos três dia, depreendi o que segue.

Há uma sólida percepção dos articulistas de quê a elite pensante brasileira não percebe
que ela foi levada a ser parte de um jogo cujo resultado não é o que lhe interessa. Isso
fica evidente no texto de Reinaldo Azevedo, na sua coluna na Rede TV! e reproduzido no
UOL, do dia 28 de setembro, intitulado “Desafiada a responder às mazelas, elite escolhe
tiro, porrada e bomba”. Ao longo do seu artigo, Azevedo afirma que “é espantoso que
parte considerável das elites ignore por que pobres votam no PT”, acrescentando que “os
oito anos de Lula forneceram para aquela gente, tratada com desdém pelos brucutus das
redes sociais, um prenúncio ao menos de distribuição de renda. É questão de número,
não de gosto.”

Na sua coluna deste domingo no Jornal o Estado de São Paulo, por sua vez, Vera
Magalhães reforça a tese de seu colega Reinaldo Azevedo, ao afirmar que Lula “vai tendo
sucesso em uma e em outra estratégia, com a ajuda incrível de uma parcela da elite que
nem percebe o papel que está cumprindo para aquele a quem odeia.”
De maneira diferente, Eliane Cantanhêde afirma na sua coluna do Estadão de hoje que
“da cadeia, Lula escolheu o nome, a estratégia, o timing, os alvos e até o adversário. A fé
cega dos lulistas fez o resto.” Na visão da colunista, com o acerto do PT e o não
crescimento do candidato do PSDB, a elite não percebeu, o surgimento de uma
candidatura que atendia apenas parte do seu ideário liberal – ou como diz Azevedo
“Liberais nada! Trata-se de uma gente grotescamente reacionária, que tem ódio e medo
de pobre e de preto.” Na avaliação de Cantanhêde, Jair Bolsonaro representa a variável
do mercado que interessa à essa elite. No entanto, traz consigo os elementos que reforça
o estigma aludido pelo jornalista Azevedo. Dai a opção pelo tiro, porrada e bomba.
Na sua coluna deste domingo na Folha de São Paulo, Janio de Freitas cita as ilusões
perdidas como resultado deste momento. Segundo ele, “perdidas as ilusões, em suas
ansiedades os candidatos e eleitores dão a medida da distância a que continuamos de
um regime eleitoral sério, passados quase 30 anos desde a primeira eleição presidencial
pós-ditadura.” O integrante do Conselho Editorial da Folha vai além na sua análise,
incluindo nela as instituições jurídicas, uma vez que “as hipóteses de transtorno, até que
haja a posse, incluem a magistratura e o Ministério Público nas potenciais fontes de
complicações maiores.” Isto é, segundo Janio, no atual momento político brasileiro, o
Ministério Público e o aparato judicial também fazem parte do problema.

Diante do acirramento entre os dois candidatos que irão, virtualmente, para o segundo
turno – materializado nos eventos de ontem (contra Bolsonaro) e de hoje (a favor de
Bolsonaro) – Willian Wack, na sua coluna do Estadão de hoje conclama a sociedade a
reconhecer que este é “o momento histórico em que mais se deva lamentar nossa
evidente falta de verdadeiras lideranças.” Mais ainda, o colunista afirma que “no meio desse movimento foram apanhadas elites pensantes que, à falta de um projeto de País
razoavelmente desenhado, e em dúvida sobre as próprias ideias, parecem pregar a um
deserto de ouvintes – e que se sentem ‘órfãos’ de representação – os valores
democráticos, harmonia, estabilidade,estabilidade, coesão de princípios e o que mais pareça bonito, socialmente responsável e capaz de arrancar aplausos de gente ‘razoável’”. No seu texto, Wack faz apelos ao que ele chama de “razoável”, afirmando não crer que a opção entre Haddad e Bolsonaro seja, como pensa a maioria, uma espécie de “escolha de Sofia”.

Em resumo, há no sentimento dos que escreveram neste fim de semana a convicção de
que a eleição não pacificará o País e que as elites contribuíram para este estado de
coisas, seja pela aversão ao “lulo-petismo”, como afirma Vera Magalhães, ou pelo medo e
ódio de preto e pobre, na visão de Reinaldo Azevedo.

Todos reconhecem, entretanto, que a solução Bolsonaro produzirá resultados não
assimiláveis por parte significativa da sociedade, caso ganhe as eleições. Do mesmo
modo, a vitória de Haddad será vista como uma derrota da parte pensante da elite que
rejeita a volta do PT, uma vez que o grande idealizador das estratégias que o levará ao
segundo turno está preso em Curitiba – e isso não é simples de ser aceito por quemsempre orientou os rumos do País.