A CIÊNCIA DE CONFÚCIO

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Disse Aristóteles, o grande filósofo e primeiro cientista da história: o homem, pela própria natureza, é um animal político. Para o senso comum, políticos seriam somente os governantes. Enquanto uns pensam que fazer política é uma arte; para outros, não passa de um jogo (sujo, na maior parte das vezes). Finalmente, há quem diga que a política é uma ciência.

Pois bem. Aqueles mais familiarizados com o meio acadêmico conhecem bem o imbróglio a que chamam de “epistemologia”: quando uma ciência pode ser considerada, de fato, científica? Essa pergunta, aparentemente retórica, abre, por sua vez, uma questão filosófica: o que é ciência? Ao pé da letra, ciência quer dizer conhecimento, mas não um conhecimento qualquer. Trata-se, na verdade, de um tipo de saber, que obedece a determinados critérios. O conhecimento científico é racional, metódico, objetivo. Quais áreas atendem essas exigências? Exatamente: as ciências exatas. Naturalmente, as ciências naturais.

As coisas se complicam mesmo quando se trata do homem e da sociedade, indóceis – até certo ponto – a previsões, experimentos e controle. Na área das Humanas sabe mais quem pelo menos nada sabe. A política é uma ciência empírica e o médico Confúcio Moura bem sabe que diagnósticos e prognósticos não se fazem à base de observação e experiência apenas, mas também com uma boa dose de sabedoria. Para tanto, vale fazer uma breve pesquisa sobre seu milenar xará, o pensador chinês Confúcio, cuja filosofia, nascida de tradições e crenças chinesas comuns, apregoavam uma moralidade pessoal e pública, um agir correto nas relações sociais, a sinceridade e a justiça. Porém, o princípio ético do mestre de não fazer aos outros aquilo que não se quer para si parece pouco provável quando o assunto é política.

Cassado por um erro de cálculo (“abuso” de poder econômico, “farta” distribuição de comida na convenção pré-eleitoral), o governador está confiante de que o resultado de seu julgamento será revertido no Tribunal Superior Eleitoral. Homem de letras e um político experimentado, Moura possui um currículo invejável. A despeito de sua inteligência, tem adversários que por sua vez são bastante espertos. A Lei, no que se refere à justiça eleitoral, não é tão factual como a lei da gravidade, tendo brechas às vezes ininteligíveis que permitem fazer da democracia apenas uma tese, nem sempre confirmada.

No laboratório político propriamente dito, porém, o cientista precisa dar lugar ao sábio. É previsível que um governador com “a máquina na mão” se reeleja, assim como aponta a sabedoria popular que é impossível “trabalhar com mel e nunca sequer melar um dedinho”. Também não precisa ser cientista para saber que um candidato derrotado quando não se conforma com os irrefutáveis dados das urnas logo se torna um meticuloso investigador da campanha alheia, mas do tipo que só descobre aquilo que sua expectativa já espera encontrar. Na pesquisa do espertalhão, o efeito é sempre a confusão. E ninguém desata esse nó.

Moura, assim como Confúcio, precisa ser sábio, haja vista que uma eleição sem eleitores é como uma pesquisa feita com cobaias: os resultados são sempre mais fáceis de manipular. O cidadão, o animal político de Aristóteles, é quem deve ficar esperto. Basta ser observador como um

cientista e questionador como um filósofo. Se a ciência política é também uma arte, está nos olhos de quem vê, mas se é um jogo, cada um precisa escolher de que lado está: dos confusos ou de Confúcio.

Por Fabrício Janot- articulista do Mais AL e Mais RO