Pra não dizer que não falei das flores…

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…e da polarização política raivosa, da esperança e do amor…

O mestre Jânio de Freitas, veterano jornalista da Folha de São Paulo, no seu artigo dominical último afirma que o ano de 2022 será marcado pelas eleições nacionais e estas surgem como uma esperança para demarcar o que o País quer para si. Sem se referir a um plebiscito, Jânio transita pelo viés de modelo de sociedade em que o brasileiro que viver, a partir da experimentação do vivido antes de Jair Bolsonaro e no que se vive no período em que ele preside o País. Na visão do jornalista, as eleições já estavam marcadas antes de sabermos quem as disputariam, mas agora, postos os nomes, um ingrediente novo entra em disputa…

Vandré, no seu clássico de resistência, passeou entre o horror da ditadura e a beleza dos versos, em apelos para que as flores vencessem os canhões e quem sabe faz a hora e não espera acontecer. Usou o artifício que tinha em mãos e que dominava para gritar ao mundo que não haviam escolhas disponíveis e que o momento em que vivia era de angustia e dores. Ao contrário de Jânio de Freitas, para Geraldo Vandré, não haviam eleições à frente e nem liberdade para qualquer escolha. O País estava dado.

Da mesma forma como uma eleição nos empurra para o caos e para a barbárie, ela traz a esperança de retorno à paz e à civilização. As eleições de 2022 podem ser uma coisa ou outra, ou pode ser mais. A mim não basta ser o retorno à civilização. Ser apenas isso comprova que nosso estágio civilizatório é muito rudimentar e novos ventos mais bruscos podem abalar a “civilização” a ser reconstruída. Ou saímos da dicotomia ideológica esquerda X direita como se apresenta (a terceira via parece ter desistido), ou as eleições se esgotam nelas próprias, com resultados apontando ganhadores e perdedores. Dai, o propósito que Jânio de Freitas espera que elas alcancem, é frustrado,

Mais importante do que defender seu lado político – esquerda ou direita – os cidadãos precisam buscar quem representa o amor. Não amor ao País, pois todos têm uma forma diferente de amá-lo no todo – e logo caímos no erro de achar que a nossa visão é a melhor e mais correta. Falo de amar as pessoas em primeiro lugar, de compreender essa complexidade enorme que cada um carrega dentro de si, seja ela de esquerda ou direita. E amá-las como são, sem pedir que deixe de ser uma coisa ou outra. Não estamos maduros o bastante para debates ideológicos sem produzir feridas e rupturas em nós, nos outros e na sociedade. Amemos primeiro as pessoas.

Usemos as eleições de 2022, como pensadas pelo Jânio de Freitas, para dar a elas o propósito que ele imagina, não apenas para escolher nomes de ganhadores e perdedores – e sim para escolher o País que queremos.

E, como Geraldo Vandré, agora com possibilidades de escolhas, vamos escolher governantes que ame seu povo, que o receba com flores em vez de canhões nas repartições públicas, que compre os melhores móveis, os melhores cafés, que construam prédios modernos para receber servidores e cidadãos, que não se encarapitem nos últimos andares dos edifícios públicos. Vamos usar o amor ao que é público para fundamentar os debates e descartar gestores que passam o dia cercado de assessores caros e decidem apenas nas madrugadas em companhia dos cônjuges ou em acordos nada republicanos. Aqui o amor é de outro tipo. É possível aos governantes demonstrar afeto aos governados, dar-lhes acolhimento, ser gentil, não vê-los apenas como um problema, ser amoroso.

É isso! Quero um governo amoroso. Seja de esquerda ou direita. É possível. É necessário.

Por Elizeu Lira