62% dos moradores das favelas que receberam o auxílio emergencial utilizaram o benefício para ajudar familiares e amigos, diz pesquisa inédita do Data Favela

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O levantamento também diz que nas favelas, 80% das famílias estão sobrevivendo com menos da metade de sua renda antes da pandemia

A pesquisa inédita “Pandemia na Favela –  A realidade de 14 milhões de favelados no combate ao novo Coronavírus”, realizada pelo Data Favela, uma parceria do Instituto Locomotiva, da Central Única das Favelas (CUFA) e da Favela Holding, dá uma visão sobre o momento da pandemia, apontando, entre outros dados, como está a percepção dos moradores das favelas sobre a evolução da pandemia – para a maioria (52%) a pandemia ainda está no meio do caminho.

O levantamento também diz que nas favelas, 80% das famílias estão sobrevivendo com menos da metade de sua renda antes da pandemia, quando apenas em 4% dos casos, a renda familiar se manteve a mesma.

De acordo com o levantamento, a preocupação com a saúde é unanimidade entre os moradores das favelas – 89% estão preocupados com a saúde dos parentes mais velhos; 88% temem perder o emprego e a renda; 71% estão preocupados com a saúde dos mais jovens; 70% estão preocupados com a própria saúde.

O impacto da pandemia na economia das favelas brasileiras também é medido pelo estudo. Hoje, o emprego formal entre os moradores economicamente ativos nas favelas é metade do que no asfalto. O desemprego é o dobro.

Outro aspecto relevante, segundo a pesquisa, é que quase 7 em cada 10 famílias pediram o auxílio emergencial; e 41% ainda não conseguiram receber o auxílio emergencial. Quem conseguiu receber o auxílio emergencial, utilizou o dinheiro para compra de alimentos (96%), produtos de higiene e limpeza (88%), compra de produtos de limpeza (87%), pagamento de contas básicas (68%), compra de remédios (64%) e ajuda a familiares e amigos (62%) – neste momento de necessidade extrema, fica evidente a força dos laços de solidariedade entre os moradores da favela.

Mesmo com todas as dificuldades, proporcionalmente, os moradores de favelas realizaram mais doações para o combate à crise do Covid-19. 63% dos favelados fizeram algum tipo de doação durante a pandemia, enquanto 49% dos brasileiros fizeram algum tipo de doação durante a pandemia.

Para Renato Meirelles, fundador e presidente do Instituto Locomotiva, também fundador do Data Favela: “Não é verdade que o vírus é democrático. Ele pode atingir todos, mas a desigualdade social no Brasil faz com que os anticorpos dos moradores das favelas sejam diferentes dos moradores do asfalto no combate ao Coronavírus”.

Celso Athayde, CEO da Favela Holding, fundador da CUFA e do Data Favela acredita que as ações não devem parar. “Essa pesquisa deixa claro que a pandemia impactou da pior forma na favela. Precisamos de política pública nesses territórios, porque o estudo também comprova que senso de solidariedade, coletividade e organização a favela tem de sobra”.

Metodologia da pesquisa: A pesquisa quantitativa digital foi realizada com 3.321 moradores de favelas de todos os estados brasileiros, de 19 a 22 de junho de 2020 com uma margem de erro de 1,6 p.p.

A pesquisa foi divulgada no Fórum Data Favela discutiu em webinário o tema “Favela no Combate ao Coronavírus”, com participação da CUFA, do Instituto Locomotiva e da UNESCO no Brasil. Com participação de Celso Athayde, Renato Meirelles; a Diretora e Representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto; a rapper e compositora brasileira, Karol Conka; a atriz Mariana Ximenes; o compositor e cantor brasileiro Dudu Nobre; o ativista de Direitos Humanos, jornalista comunitário e representante do Coletivo Papo Reto, Raull Santiago; a rapper Nega Gizza e a socióloga Neca Setúbal.

Link do webinário www.youtube.com/watch?v=ij2cXjXVc94

Sobre a Central Única das Favelas (CUFA)

Há 20 anos, a CUFA promove atividades nas áreas da educação, lazer, esportes, cultura e cidadania, como grafite, DJ, break, rap, audiovisual, basquete de rua, literatura, além de outros projetos sociais. Além disso, promove, produz, distribui e veicula a cultura hip hop através de publicações, discos, vídeos, programas de rádio, shows, concursos, festivais de música, cinema, oficinas de arte, exposições, debates, seminários e outros meios. São as principais formas de expressão da CUFA e servem como ferramentas de integração e inclusão social.

Dentre as ações que imprimem legitimidade ao trabalho desenvolvido pela CUFA durante esse período, estão: Taça Das Favelas, Festival De Lutas Da Cufa (FLC), Semana Global Da Cufa, Dia Da Favela, Hutúz, LIIBRA, CineCufa, RPB Festival, Reis da Rua, BRADAN, Maria-Maria, Prêmio Anu, CUFA Contra o Vírus, Mães da Favela, entre outros, marcas de identidade singular, iniciativas sem precedentes, que fidelizaram seu próprio público. Pois, ainda que este público não seja totalmente ligado a todas as áreas de atuação de seus eventos, a própria CUFA, enquanto instituição, faz a diferença em cada um deles, em termos de qualidade, inovação e responsabilidade social.

Sobre o Instituto Locomotiva:

Fundado em 2016, o Instituto Locomotiva nasce para transformar dados em estratégias e ações para que empresas, instituições públicas e organizações do terceiro setor dialoguem com uma população cada vez mais informada e exigente. O Instituto Locomotiva desenvolve estudos com as mais variadas metodologias, colocando-se ao lado dos cidadãos e consumidores como porta-voz de suas demandas frente a empresas, instituições públicas e organizações do terceiro setor.

Em um mundo que se transforma cada vez mais rápido, verdades absolutas são a todo momento desconstruídas, e apenas uma certeza parece segura: novas mudanças virão. Mudam as tecnologias, as relações humanas, os clientes, novos negócios surgem e outros tornam-se obsoletos. No Brasil não é diferente. Mudamos muito na última década e vamos continuar mudando. O consumidor amadureceu, o cidadão ficou mais exigente e já temos uma geração inteira que nasceu conectada. Todas essas mudanças são responsáveis por um novo modo de pensar, que o Instituto Locomotiva acompanha de perto e sistematiza em dados.