Soldados da Borracha: Heróis esquecidos desde a Era Vargas

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No lugar de riqueza e progresso, os seringueiros "alistados" encontraram fome, escravidão, doenças e miséria

Em busca das honras e compensações prometidas quase sete décadas atrás, um grupo de quatro mil pessoas com mais de 80 anos poderá, finalmente, usufruir do que o governo se comprometeu a oferecer naquela época: fartura na Amazônia. Eles são os soldados da borracha, que a partir de 1942 deixaram o Nordeste para cortar seringa na região, como parte do acordo fechado por Getúlio Vargas de fornecer a matéria-prima às forças aliadas durante a Segunda Guerra Mundial. No lugar de riqueza e progresso, os seringueiros “alistados” encontraram fome, escravidão, doenças e miséria. Hoje, exigem do Estado brasileiro uma indenização individual de R$ 763,8 mil que tramita no Superior Tribunal de Justiça em Brasília como reparação moral e material por tudo que passaram. o vice presidente george telles pede a justiça prioridade no julgamento da açao judicial no stj em brasilia porque o presidente da republica sancionou uma lei 13.466 que solicita prioridade os idosos acima de 80 anos nos processos judicias. 

A expectativa é de que a decisão da Justiça saia em breve. Embora a Advocacia-Geral da União (AGU) já tenha apresentado suas contestações, refutando o pedido, documentos históricos obtidos pelo Correio revelam que as autoridades esconderam dos recrutados as condições precárias tanto da viagem quanto da vida que os esperava na floresta. A partir de hoje, uma série de reportagens mostrará também o improviso que marcou todo o processo capitaneado pelo governo.

Valia tudo para honrar o compromisso de fornecer 35 mil toneladas anuais de borracha aos Estados Unidos. Criar uma propaganda enganosa de recrutamento, confabular com autoridades locais, provocar um engajamento da Igreja Católica, deixar trabalhadores sem água ou comida depois de alistados. A reparação que os nordestinos julgam merecer pode vir de decisão da 2ª Vara Federal em Rondônia, que analisa desde 2009 o processo movido pelo Sindicato dos Soldados da Borracha e Seringueiros do Estado. A instituição representa atualmente quatro mil pessoas, sobreviventes de um exército maior, de 50 mil homens, mobilizados à época. O chamado do governo os colocavam em posição de destaque. “Ao nordestino, cabe uma tarefa tão importante como a do manejo das metralhadoras (…) impõe-se-lhe o dever de lutar nas terras abençoadas da Amazônia, extraindo borracha, produto indispensável para a vitória, como a bala e o fuzil”, dizia a propaganda, tão diferente da realidade.

A campanha efusiva de recrutamento divergia muito da postura do Brasil poucos meses antes, ainda indeciso sobre a conveniência de enviar homens para uma batalha da Segunda Guerra que ocorria na Itália. Só depois que submarinos nazistas atacaram os navios Buarque, Olinda e Cabedelo em águas brasileiras, matando 55 pessoas, foi que o governo saiu do clima de flerte com a Alemanha de Adolf Hitler e escolheu ficar do lado das tropas aliadas. Também pesou, na decisão, a ajuda econômica prometida pelos Estados Unidos. A partir de 1942, milhares de soldados da borracha começaram a ser deslocados para a ainda desconhecida floresta. Dois anos depois, 25 mil pracinhas partiram para a Europa sob as bênçãos do governo, que em troca receberia dinheiro para construir, entre outras obras, a Companhia Siderúrgica Nacional. Alheio à tanta negociação, Adelmo Fernandes Freitas se alistou, aos 12 anos, junto com o pai.

Ele queria ser soldado da borracha, apesar de não saber como era a mata, mas apenas a seca e a miséria do Nordeste. Hoje com 80 anos, Adelmo tem uma recordação clara da chegada ao Acre, em 1943, na companhia do pai, Manuel Pedro Fernandes, e outros sertanejos — Aquilo era uma vida de bicho — define o ex-seringueiro, que passou 15 anos, ou um quase um quinto da sua existência, dentro da floresta. Mesmo quando ainda era menino, ele sonhava ganhar muito dinheiro no seringal. A esperança de ter uma vida melhor, porém, durou só o tempo do trajeto entre o seu Ceará e as terras acrianas, cerca de três meses. Na chegada, já foi possível prever que o plano de enriquecer naquele mundo tão diferente de onde foi criado não passava de ilusão.

O trabalho era incessante — Seis dias para cortar a seringa e, no sábado, a gente defumava a borracha — lembra Adelmo. Alguns poucos domingos de folga que sobravam tinham de ser aproveitados para garantir a sobrevivência nos próximos dias — A gente aproveitava o dia para recolher cocos e juntar cavaco para fazer fogo. Medo da floresta, ele garante que não tinha. O pavor vinha das doenças que mataram vários de seus companheiros. Uma delas é a malária, da qual foi vítima por várias vezes — Até perdi as contas — observa o senhor. Na falta de um tratamento e diante das condições precárias de vida, ele fazia qualquer coisa para tentar se livrar do mal-estar e das dores provocadas pela peste Amazônica — No barracão não tinha uma pílula sequer. Quantas vezes tive que ir para o igarapé para aliviar a febre — recorda o ex-seringueiro.

História

Durante a 2ª Guerra Mundial cerca de 60 mil pessoas, a maioria de estados nordestinos, foram levadas à Região Amazônica para trabalhar na extração da seringa. A borracha era enviada aos Estados Unidos e usada nos equipamentos dos Aliados para a guerra contra as forças do Eixo.

Os trabalhadores foram recrutados pelo Semta (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia), com promessas de melhoria de vida. Mais da metade dos recrutados acabou morrendo em razão das péssimas condições em que foram colocados para trabalhar.

Direitos esquecidos

Os soldados da borracha foram vítimas de violação dos direitos humanos e viveram em regime de escravidão — ressalta o vice-presidente do Sindicato do Soldado da Borracha (Sindsbor) George Telles de Menezes(carioca), que defende a categoria no congresso nacional e na Comissão de Direitos Humanos no estados unidos da América, com advogado Dr. Antônio Souza Dias breve a categoria estará recebendo suas ações judicias.
Sindsbor