Povos indígenas, ribeirinhos e movimentos sociais fecham rodovia de RO contra construção de UHE em Guajará-Mirim

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Crédito das fotos: Cimi Regional Rondônia/Equipe Guajará-Mirim
Crédito das fotos: Cimi Regional Rondônia/Equipe Guajará-Mirim

Com o objetivo de sensibilizar autoridades públicas e comunidades que serão afetadas diretamente pela construção da Usina Hidrelétrica do Ribeirão, a BR-425, próxima à Cachoeira do Ribeirão, trecho incidente no município de Nova Mamoré (RO), foi trancada pelos indígenas, ribeirinhos, comunidade boliviana impactada e movimentos sociais.

A mobilização contou com a presença, além de indígenas e ribeirinhos da região, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Instituto Madeira Vivo (IMV), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), movimentos sociais de Porto Velho, além de Dom Benedito Araújo e do bispo da diocese de Guajará Mirim, Dom Geraldo Verdier.

“Representamos os 24 povos de Guajará Mirim e dizemos não, não para a construção da Hidrelétrica do Ribeirão, dizemos não para a construção de hidrelétricas nos rios da Amazônia, dizemos não à violação de direitos, queremos sim justiça social, políticas públicas, igualdade e respeito”, disse Eva Kanoé.

As consequências dos que foram atingidos com a construção das hidrelétricas, conforme os presentes, devem servir de embasamento ao não à construção da UHE de Ribeirão. A ganância e a subserviência do governo ao capital visam o lucro em detrimento dos povos e comunidades tradicionais atingidos.

Comunidades que moram à margem do rio Madeira e igarapé Ribeirão dependem da pesca, da agricultura, da caça e do meio ambiente como um todo para a sobrevivência. Tirar a floresta, a terra e os rios de tais grupos é a mesma coisa que condená-los a uma vida com futuro incerto e de privações no ambiente urbano.   

Para Dom Benedito Araújo se trata apenas do começo de uma luta “que teremos pela frente, na atual conjuntura brasileira, para garantir os direitos já conquistados. Que este dia possa ser um dia que nossa voz seja ouvida, e ouvida sobre tudo contra essa cultura que para produzir precisa destruir tudo. Não podemos concordar que “terra não enche barriga”, fazendo referência às declarações do ministro ruralista da Justiça, Osmar Serraglio.

Durante a manifestação foi entregue uma carta para os motoristas e população com o intuito de sensibilizar e conscientizar o conjunto da sociedade sobre as conseqüências e impactos da construção da UHE do Ribeirão.

Leia na íntegra a carta:

14 de Março: DIA INTERNACIONAL DE AÇÃO CONTRA BARRAGENS

PELOS RIOS, A ÁGUA E A VIDA – “NO A LAS REPRESAS”

Nós, Entidades e Movimentos Sociais, do campo, das cidades, das florestas e da águas, do Brasil e da Bolívia, da Aliança dos Rios Panamazônicos, vimos neste dia conclamar a sociedade em nível internacional, que abra os olhos e vejam o que as empresas serviçais do capitalismo estão promovendo, provocando a morte de rios, povos e comunidades inteiras na Bacia dos Rios: Madeira, Teles Pires, Juruena, Xingu, Tapajós entre outros como construção de Barragens, com a finalidade única de gerar energia.

Nós não agüentamos mais a pressão sobre nossas vidas, e aos recursos naturais fundamentais para nossa vida. Nossos rios e florestas estão sendo destruídas sem dó e nem piedade, deixando um rastro de destruição do meio em que vivemos.

Denunciamos que as Hidrelétricas já construídas no rio Madeira, em Santo Antônio e Jirau desde o início das obras deixou a marca de negação de direitos. A mortandade de peixes com a construção de ensecadeiras dizimou milhares de peixes e inviabilizou o processo de reprodução do pescado rio acima, comprometendo a segurança alimentar e nutricional das pessoas que dele depende para se alimentar e gerar renda. Pescadores tradicionais do Brasil e da Bolívia viram o peixe desaparecer e nada foi feito para evitar tudo isto.

As promessas de indenizações foram só ilusão, e até hoje milhares de pessoas acionaram as empresas construtoras na justiça na tentativa de garantir o que lhes é de direito.

Comunidades urbanas como o distrito de Araras, do Município de Nova Mamoré, vizinha da localidade boliviana de comunidade Nova Esperança, até hoje espera por melhorias no atendimento à saúde, saneamento e educação, assim como as indenizações pela perda de terras férteis e áreas de pesca. No lado boliviano os castanhais que contribuam significativamente para a geração de renda para as comunidades, desde 2014 com a grande inundação, não conseguem tirar mais nenhuma safra, já que na região, devido o lago da hidrelétrica do Jirau,  a partir de outubro se encontra toda alagada não permitindo qualquer coleta dos ouriços de castanhas.

Denunciamos que a Hidrelétrica de Jirau é binacional e sua influência é negativa nestas comunidades brasileiras e bolivianas, e que deve ser tratada dessa forma pelas autoridades competentes, de forma a garantir direito sociais, econômicas e ambientais das comunidades.

Os povos indígenas atingidos e ameaçados com a construção da possível hidrelétrica da Cachoeira Ribeirão, denunciam que, o rio tem vida conectado com a terra, local de morada dos espíritos e ao afetar o rio está matando os espíritos da terra. Portanto, se declaram contrários a esta insanidade.

Esse é nosso propósito – nenhuma hidrelétrica mais nos rios panamazônicos. Dizemos sim a vida e aos rios vivos e livres. Não a morte, não às barragens, não às hidrelétricas, não às eclusas


Direitos iguais aos povos e comunidades da Bacia do rio Madeira”.

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