Porto Velho, a cidade dos miseráveis

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José Armando Bueno (*)

A população de Porto Velho, administrada pelo tucano Hildon Chaves, cravada em 519.436 pessoas em julho de 2017 pelo IBGE,  cresceu mais de 20% de 2010 a 2017, cerca de 3% ao ano. É um crescimento robusto, considerando que o país cresce à taxa anualizada de 0,8%. Mas é um crescimento que não agrega valor à economia, ainda que se considere que o PIB Per Capita cresceu mais de 30%, de R$ 21.319,08 em 2010 e que atingiu R$ 27.741,10 em 2017. É a enorme concentração de renda que campeia no país. Qual o significado destes números para uma cidade que se pretende moderna, evoluída ou que esteja buscando crescimento e pujança, mas que transpira pobreza e miséria? É o que veremos neste BLOG.

EXÉRCITO DE MISERÁVEIS  |  A miséria é um dado da realidade de Porto Velho. Os números do IBGE não falam, eles gritam e regurgitam fome, miséria e abandono:

22% da população – 114 mil pessoas – é POBRE¹

08% da população – 41 mil pessoas – é EXTREMAMENTE POBRE²

¹ POBREZA = Renda Per Capita de R$ 140,00/mês

² EXTREMA POBREZA = Renda Per Capita de R$ 70,00/mês

Então, este exército de miseráveis, corresponde a 30% da população. Meu Deus, Porto Velho tem 30% de indigentes (!!!), e parece que isto não preocupa nada os governantes locais. Todas, todas as ações até agora realizadas foram menos que cosméticas, pois a miséria escorre pelas ruas como o esgoto a céu aberto. Áreas, unidades, projetos e programas de Defesa Social, estão totalmente desarticulados e reféns de atividades meio, que consomem preciosos recursos, como pagamento de salários e custos administrativos. O que foi feito nestes 13 meses? Praticamente nada. 

TAGS REFLETEM IMOBILISMO  |  Deveria ser criada uma Rede Solidária de Combate à Fome e à Miséria, como ação imediata para mitigar a fome de milhares. Cabe lembrar, porque a mente humana é esperta para esconder-se dos problemas, que fome é um dado DIÁRIO da realidade, ou seja, é preciso pelo menos três refeições diárias para que uma pessoa possa ser considerada alimentada, ainda que seja por ração. Estas quase 160 mil pessoas pobres ou extremamente pobres amanhecem o dia sem saber se vão comer ou o que vão comer. As TAGS que o meu sistema mapeou sobre fome, miséria, alimentação, dentre outros, extraído do que foi divulgado pela propaganda oficial da prefeitura, indicam o escândalo de que menos de 1% refere-se a fome, pobreza, miséria. Ou seja, esses 30% da população não têm a menor atenção da prefeitura. E quando me debrucei sobre os assuntos abordados, mais miséria de conteúdo. A fabriqueta de releases do prefeito é o próprio reflexo da miséria pois, se a CONDECOM (essa maquininha pífia da propaganda oficial) reflete bem o que (não) fazem a prefeitura e o prefeito, então estamos no sal, ou melhor, no fogo do inferno. Para registro: o tagueamento de conteúdos da CONDECOM inexiste ou é uma fraude escandalosa. Enquanto isso, o prefeito diverte-se com suas lives insípidas de conteúdo e total desprezo para o exército de miseráveis que o elegeu. Pra nunca mais. Ele está numa bolha e não apercebeu-se.

A COSMETOLOGIA OFICIAL  | As iniciativas oficiais são pura cosmetologia, mas daquelas do Brás e não das grandes marcas globais. Chás, feijoadas e outras toadas ditas beneficentes não alcançaram 1% dos miseráveis. Tudo reflete passividade diante do desastre humanitário escondido e diluído em 40 quilômetros quadrados somente na área urbana. Nos distritos o escândalo à distância permanece bem longe dos olhos do prefeito, dos secretários, aspones e outros cicerones. A SEMASF Secretaria Municipal de Assistência Social e à Família, é o paradigma da incompetência. O secretário, licenciado em filosofia – poupe-nos Hildon Chaves (PSDB)! – , apresenta um currículo pífio, por isso mesmo não produziu nada que possa ser considerado projeto ou programa com P maiúsculo. A secretária adjunta, mulher do vice-prefeito pego na lista da JBS, é uma contadora, provavelmente de histórias. Decorridos 13 meses de governo esta secretaria municipal – como outras – ainda não disse a que veio. Por outro lado, o tagueamento mostra que a prefeitura é boa mesmo de festa, foguetório e palavrório, além de asfalto, a palavra mágica que imobiliza o prefeito para outros feitos que deveria realizar. Fora isso, um deserto. Não há planejamento estratégico, não há projetos DE FATO, não há iniciativas com acabativas. Mal e porcamente a gestão sustenta-se em palavras, não em atos. Com tanta espuma é claro que nada se apruma. 

UMA VERGONHA  |  Mas o escândalo mesmo não é a fome em si. É a falta de iniciativas DE FATO para acabar com a fome. Porto Velho tem mais de 34 mil km², maior que muitos países e é a maior capital brasileira em extensão territorial. E não me venham com aquela conversa vagabunda de que nossas terras são inférteis ou pobres. Sobra terra boa nos quatro cantos. Temos algumas das áreas de várzea mais férteis do planeta. Mas importamos de tudo pra comer aos milhões de toneladas. Uma vergonha inominável. As parcas iniciativas são de fato pobres e miseráveis. A falação da instalação de uma central de abastecimento, até agora é falação. Este projeto eu apresentei ao prefeito, mas alertei que os atacadistas e supermercadistas são contra. Prova disso é que o mesmo projeto apresentei para o governador Confúcio e seu secretário sedentário da agricultura empresarial. Nada foi feito porque contraria grandes interesses empresariais, inclusive daqueles que financiam campanhas eleitorais. Mas é provável que estes sejam os primeiros a comprar os boxes do futuro CEASA para comercialização de alimentos em larga escala. Ou seja, caso o prefeito não tome cuidados jurídicos bem pensados – e considerando o seu histórico existe o risco de ser bem mal pensado – certamente os punguistas de alimentos, atravessadores, atacadistas, supermercadistas e outros istas, vão tomar de assalto os boxes que deverão ser leiloados em hasta pública, mas com tudo bem arranjado antes.

PREFEITO EXPEDITO CHAVES  |  Estamos em ano eleitoral. Tudo pode acontecer, como também nada. Mas eu quero sugerir ao prefeito de fato, Expedito Chaves, que ao percorrer as secretarias e ruas da capital para fazer o seu trabalho da velha política caçando votos para sua eleição quase naufragada, cuide dos pobres e miseráveis desta cidade que ainda lhe negam voto. Poderá ser a sua única salvação, considerando que o risco de não ser eleito é fato consumado. Essa velha política clientelista e revanchista, está próxima do fim. O eleitor, tido como um idiota ou bobo, dará uma sova nessa turma da velha política e vai surpreender até os institutos de pesquisas, novamente, que não conseguem mapear nada, e agora escondem-se na cantilena de que, pesquisa, é apenas o corte de um momento e que tudo pode mudar. Pode sim, e vai. Dê uma varredura nas redes sociais, em especial nas bolhas que lhe prendem, e você leitor deste escriba digital, verá o desastre anunciado. Tô de camarote.

P.S.: O título deste BLOG, para os iletrados, analfabetos funcionais e alguns imbecis, refere-se sim aos miseráveis de fato, famintos e abandonados, mas também aos miseráveis que deveriam acabar com esta vergonha e não o fazem por incompetência e pura maldade desumana. 

(*) José Armando Bueno é empreendedor e jornalista, editor de A Capital

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