Polícia prende três coiotes que levaram brasileiros sumidos, dentre eles, um de RO

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FABIANO MAISONNAVE MANAUS, AM (FOLHAPRESS) – Em operação contra uma quadrilha responsável por levar imigrantes brasileiros ilegalmente aos EUA, a Polícia Federal prendeu três coiotes e cumpriu sete mandados de busca e apreensão em três Estados: Minas Gerais, Rondônia e Santa Catarina.

Batizada de Piratas do Caribe, a ação faz parte das investigações sobre o paradeiro de 12 brasileiros desaparecidos desde 6 de novembro, quando teriam partido das Bahamas rumo à Flórida. Eles são de Minas Gerais, São Paulo, Pará, Paraná e Rondônia.

Autoridades das Bahamas e dos Estados Unidos informaram recentemente à PF de que não há registro de sua prisão. Com isso, cresce a hipótese de que o barco que levava o grupo tenha naufragado durante o trajeto. Até a conclusão desta edição, a PF ainda não havia localizado outros dois coiotes (agenciadores e atravessadores de imigrantes) com mandados de prisão expedidos.

Os mandados de busca incluíram agências de turismo usadas para organizar as viagens e casas de participantes do esquema. A investigação recolheu indícios de que o esquema pagava propina para funcionários de imigração no aeroporto de Nassau, capital das Bahamas, para evitar a deportação, o que configura corrupção de agentes públicos.

De avião, grupos de imigrantes viajavam na data em que o acesso havia sido negociado e recebiam a orientação de passar em um determinado guichê, onde estaria o funcionário subornado.

Para a PF, a forma de atuação dos coiotes configura um dos tipos de organização criminosa previsto na lei 12.850: associação de quatro ou mais pessoas com o objetivo de obter vantagem por meio de infrações penais transnacionais.

Nas Bahamas, os brasileiros costumam se hospedar juntos em hotéis ou casas particulares à espera do embarque para os Estados Unidos. Os principais portos de saída são Freeport e Bimini, mais próximos da Flórida. A operação está sendo coordenada pela delegacia da PF em Ji-Paraná (RO).

A região é uma das principais “exportadoras” de imigrantes brasileiros aos Estados Unidos, junto com áreas mais tradicionais, como Governador Valadares (MG), também incluída na Piratas do Caribe.

INTIMIDAÇÃO — Apesar de receber diversas informações anônimas sobre a quadrilha, a PF tem dificuldades para convencer parentes dos desaparecidos a testemunhar contra os coiotes. Isso atrasou o processo de coleta de indícios e, em decorrência disso, a autorização judicial da operação.

“A primeira coisa que os coiotes fazem é ir na casa de todo mundo e conhecer a família inteira. Então é muito perigoso”, disse um parente de um dos 12 desaparecidos, sob a condição do anonimato. “Não dá pra colocar nome porque a gente corre risco de morte.”

Apesar de ser menos usada do que o caminho pela fronteira mexicana, a rota das Bahamas ganhou destaque no fim de dezembro, quando o desaparecimento do grupo de 12 brasileiros chegou à imprensa.

Para a viagem, cada um deles teria se comprometido a pagar cerca de US$ 20 mil (R$ 64,4 mil). O caso ocorre em um momento de crescimento do número de brasileiros que tentam emigrar aos EUA. Só nos meses de novembro e dezembro, a Patrulha da Fronteira dos EUA prendeu em média 15,4 brasileiros por dia. É um aumento de 73% em relação à média diária do ano fiscal de 2016 (1° de outubro de 2015 a 30 de setembro de 2016), quando houve 8,9 prisões/dia de brasileiros. Mais de 90% dos casos ocorre perto da fronteira com o México.

Muitos imigrantes temem o endurecimento na vigilância após a posse, em 20 de janeiro, de Donald Trump, que prometeu erguer um muro ao longo de toda a fronteira com o México.