Parto humanizado: combate à violência obstétrica e valorização das escolhas da mulher

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Professores da pós-graduação em Saúde da Mulher do Instituto de Desenvolvimento Educacional explicam os benefícios de dar à luz de maneira natural

A hora de dar à luz é um dos momentos mais importantes na vida de uma mulher sonha com a maternidade. Com a evolução da medicina, procedimentos foram surgindo com a proposta de garantir a saúde na gestação. Por outro lado, esse desenvolvimento também acabou colocando em segundo plano as escolhas da mãe. Assim, começou-se o resgate de um movimento para garantir assistência baseada no protagonismo feminino, o chamado parto humanizado, que prioriza as escolhas da mulher.
De acordo com o enfermeiro Gilmar Júnior, professor e coordenador da pós-graduação em Saúde da Mulher do Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE), mesmo sendo uma modalidade que tem atraído muitas polêmicas, já é reconhecido pela comunidade científica como a forma de nascer mais segura e benéfica para mãe e filho. “O parto humanizado respeita o comportamento do corpo da mulher e permite que ela tenha autonomia nas suas escolhas, conhecendo o processo fisiológico ​do parir e do nascer”.
Assim, a equipe assistencial acaba realizando o mínimo de intervenções possíveis, ​​quando se julgar necessário, acordado com a ​mulher, levando sempre em consideração ​o seu estado de saúde e do bebê. “Durante o ​processo de cuidar da mulher que está parindo, ​devem ser ofertadas estratégias não farmacológicas para alívio da dor e exercícios facilitadores do trabalho de parto​, para que seja um momento único, especial, digno de um dos momentos mais marcantes que existem na vida”, explica o especialista.
Entre os benefícios desse parto normal, menor risco de morte e infeção, a ampliação do vínculo afetivo ​da mãe com seu filho, contato pele a pele e estímulo imediato à amamentação, redução d​e problemas psicológicos no período pós-parto, recuperação pós-parto mais rápida, redução de intervenções tecnológicas e medicalizações desnecessárias, valorização da mulher e combate à violência obstétrica, quando são realizados procedimentos médicos não necessários. Então, conscientes das suas possibilidades de escolhas, muitas mulheres estão optando parir de forma natural, sem intervenções cirúrgicas.
Isso é possível nos hospitais e até em casa, como era bastante comum algumas gerações atrás. Mas para a escolha pelo parto no lar ser uma garantia de direito a quem deseja ser assistida, é preciso um acompanhamento da gestação atual e uma análise bem detalhada do histórico pessoal e obstétrico de cada mulher, possibilitando que exista um controle sobre a necessidade de cuidados mais complexos para​ mãe e filho, alerta a enfermeira obstetra e professora da pós-graduação em Saúde da Mulher do IDE Thaíse Torres.
“Portanto, se existe uma vitalidade em todo o processo, provavelmente não haverá desfechos diferentes entre se parir em casa, no hospital, na cama ou na água. Em um parto humanizado, a ação é toda da mulher, devendo ser ofertado um acompanhamento ao processo​ natural do parto”, informa Thaíse. Segundo a especialista, a equipe assistencial atua de maneira expectante, só interferindo se houver alguma necessidade que demande uma intervenção real.​ Caso haja complicações, a equipe deve realizar os encaminhamentos aos serviços de saúde que já estão pré-informados.
O importante é buscar acompanhamento por profissionais capacitados e que tenham plano de transferência para um hospital, caso precise. “Há estudos com níveis relevantes de evidência científica apontando que o parto domiciliar planejado é uma opção segura para a mulher e para o bebê, desde que exista uma tomada de decisão oportuna, resolutiva e em tempo hábil, e que essa mulher tenha os critérios necessários para ser assistida em ambiente domiciliar, próximo a uma referência hospitalar”, explica a enfermeira obstetra.

A importância do profissional de enfermagem no parto humanizado

É fundamental e insubstituível a importância dos Enfermeiros Obstetras (EO’s) no cenário do parto humanizado, pois os mesmos adotam uma postura empática e equânime, de maneira integral e individualizada, a partir do reconhecimento do processo natural do “parir e nascer”. O cuidado dos EO’s demanda de dinamismo, para que os saberes da mulher sejam incorporados ao conhecimento científico e sua autonomia seja preservada, o que reflete na redução da ansiedade da parturiente, proporcionando-lhes mais coragem, conforto e segurança.
Os EO’s reconhecem a relevância da prestação de uma assistência adequada e de qualidade, por isso sempre estão acolhendo a mulher, proporcionando bem-estar, reconhecendo fatores que geram estresse, como a dor, criando um ambiente de cuidado e conforto, tanto para parturiente, como para a família. Desta forma, a enfermagem focada na saúde da mulher vem cada vez mais construindo uma história diferenciada, mostrando o seu conhecimento científico, capacidade, habilidade e influência, aliado a autoconfiança e experiência no processo de parir, preservando sempre as condições físicas, emocionais e os valores da parturiente.
E profissionais de enfermagem obstétrica vêm procurando cada vez mais aprimoramento no sentido de humanizar o parto, como curso de Acolhimento e Classificação de Risco Obstetrícia (ACCRO), ofertado no Instituto de Desenvolvimento Educacional (IDE). Ele objetiva capacitar enfermeiros/médicos e estudantes de enfermagem e também medicina para atuarem na Classificação de Risco em Urgência e Emergência Obstétrica, com vistas ao atendimento humanizado, holístico, resolutivo e de qualidade.
Considerando o atendimento de urgência e emergência oferecido na rede de atenção à saúde em Pernambuco, o perfil obstétrico da população na atualidade, a importância do acolhimento com classificação de risco para a organização da demanda da urgência e emergência e a implantação da Rede Cegonha, identificou-se a necessidade de capacitar estes profissionais para atuarem nesta área. Inscrições para o ACCRO podem ser feitas através do www.idecursos.com.br.

ACOLHIMENTO – Segundo a Política Nacional de Humanização, “acolhimento traduz-se em recepção do usuário nos serviços de saúde, desde a sua chegada, responsabilizando-se integralmente por ele, ouvindo sua queixa, permitindo que ele expresse suas preocupações. “Isso implica prestar um atendimento com resolutividade e corresponsabilização, orientando, conforme o caso, o usuário e a família, garantindo a articulação com os outros serviços de saúde para a continuidade da assistência quando necessário”, diz o coordenador e professor em Saúde da Mulher o IDE, Gilmar Júnior.
Em obstetrícia, o acolhimento na porta de entrada dos hospitais e das maternidades assume peculiaridades próprias às necessidades e demandas relacionadas ao processo gravídico-puerperal. O desconhecimento e os mitos que rodeiam a gestação, o parto e o nascimento levam, muitas vezes, à insegurança e à preocupação da mulher e seus familiares. O acolhimento da mulher e acompanhante tem função fundamental na construção de um vínculo de confiança com os profissionais e serviços de saúde, favorecendo seu protagonismo, especialmente no momento do parto.
“Frequentemente, queixas comuns obstétricas podem camuflar situações clínicas que demandam ação rápida, o que exige preparo das equipes para uma escuta qualificada e ganho de habilidade para julgamento clínico criterioso. O acolhimento é decisivo não só no reconhecimento de condições clínicas urgentes, como também na potencialização da vivência do parto e nascimento, experiência única na vida da mulher e de sua família”, esclarece Gilmar.

Benefícios do parto humanizado:
ü Autonomia nas decisões sobre o seu corpo
ü Menor risco de morte
ü Menor risco de infecção
ü ​Ampliação do vínculo afetivo ​da mãe com seu filho
ü Contato pele a pele e estímulo imediato à amamentação
ü Redução de problemas psicológicos no período pós-parto
ü Recuperação pós-parto mais rápida
ü ​Possibilidade de adoção ​de estratégias não farmacológicas para alívio da dor no trabalho de parto
ü Redução de intervenções tecnológicas e medicalizações desnecessárias
ü ​Combate à violência obstétrica e valorização da mulher

Fonte: Maíra Costa Passos.
Jornalista | DRT-PE 4365