PARINTINS, NO AMAZONAS, VIRA ROTA DE TRÁFICO HUMANO

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 Desaparecidos em Parintins podem ter sido vítimas de rede de tráfico humano Desaparecidos: Jander Mendes, 39, José Carlos Tavares, 24, Fredson Coelho, 18, e Katlen Pinheiro, 8 anos
PARNTINS (AM)- Uma onda de desaparecimento de jovens levou a Polícia a acreditar que a pequena ilha amazonense tornou-se uma rota de tráfico humano. Dezenas de jovens desapareceram sem deixar pistas de seus paradeiros. Há muitos casos sendo investigados.
Irmã do artista plástico Jander Mendes Azevedo, 39, que está desaparecido há três meses, acredita que o município está na rota do tráfico humano e não descarta a possibilidade dele ter sido uma das vitimas desse crime.

“Parintins é rota de tráfico humano e alguém está pegando essas pessoas que desaparecem aqui. Meu irmão pode ter sido uma das vítimas e isso é o que mais me preocupa. Ele é mais um nessa estatística de desaparecidos em Parintins”. A desconfiança de que existe uma rede de tráfico humano agindo em Parintins-AM (município distante 369 km Manaus) foi revelada, em entrevista ao JORNAL GAZETA PARINTINS, pela dona de casa Cintia Mendes, 37, irmã do artista plástico Jander Mendes de Azevedo, 39, que está desaparecido desde o dia 06 de julho deste ano.

 

 

 

 

Dona Cintia Mendes diz que a família dela acredita que, assim como Jander, outras pessoas desaparecidas na cidade, possam ter sido vítimas da quadrilha. Ela pede providências e reclama da demora no resultado das investigações. “Peço às autoridades que tomem providências a respeito desses desaparecimentos e investiguem os casos, pois até o momento nada foi feito. Nós, assim como familiares dos outros desaparecidos, queremos uma resposta da polícia e da justiça”, cobra a cidadã.

 

A irmã do artista desaparecido diz não acreditar que em uma ilha do tamanho de Parintins as pessoas possam sumir, como em um passe de mágica, e ninguém consegue dar definição do paradeiro delas.  “Não entendemos, ele era tão conhecido e desaparece sem alguém ter visto. É intrigante esse sumiço”, enfatiza a dona de casa.

 Reclamação

Dona Maria da Glória Mendes Azevedo, 64, mãe de Jander, reclama que mesmo após ir várias vezes a 3ª Delegacia Interativa de Polícia (3ª Dip) comunicar o fato, há 90 dias do sumiço do filho, ainda não conseguiu falar com o delegado. “Queria que a Polícia Civil investigasse algumas ligações telefônicas que recebemos de números restritos. Nas ligações, uma pessoa gritava o nome da minha filha e pedia para que ela o socorresse. Como não conseguimos falar com o delegado, decidimos investigar por conta própria, mas até agora nada encontramos”, diz emocionada a senhora.

Outros desaparecidos

 

 

 

Além de Jander Mendes de Azevedo, morador da rua Paraíba, Emílio Moreira, este ano também desapareceram outras pessoas. É o caso do jovem José Carlos de Souza Tavares, 24, morador da rua Tomaszinho Meireles, Itaúna I, visto pela última vez no dia 15 de agosto em um bar na rua 9 do bairro Itaúna 2. A família está à procura de pistas que possam levar ao paradeiro do mesmo.

 

Clique e saiba mais sobre o caso

 

 

 

 

 

Também desapareceu em Parintins o jovem Fredson de Souza Coelho, 18, que era dançarino e artista plástico. Ele desapareceu no dia 23 de abril de 2011. Fredson residia na rua Uaicurapá, bairro São Francisco. O jovem era filho artista plástico Alfredo Coelho (o Coelho) e de dona Conceição de Souza Coelho.

 

Segundo Alfredo Coelho, o filho saiu de casa com colegas e não retornou. “Até hoje procuramos por ele e não obtivemos respostas. Mesmo após as testemunhas serem ouvidas, a polícia não deu qualquer solução. Mas não paramos por nem um momento de buscar a verdade. Podemos dizer aos envolvidos no desaparecimento do meu filho: não existe crime perfeito e a justiça vai ser feita”, enfatiza emocionado o cidadão.

 

O pai da vítima acha estranho que mesmo após ter ido várias vezes a delegacia pedir a Polícia Civil para solicitar da Justiça a quebra do sigilo telefônico de Fredson, o pedido nunca foi atendido. “Com a quebra do sigilo a gente poderia saber com quem ele se comunicou no dia do desaparecimento. Se isso tivesse sido feito, o caso teria sido desvendado”, lamenta.

 

 

Caso Khatlen Pinheiro

 

 

 

 

Outro caso de desaparecimento foi da criança Khatlen Pinheiro, 8 anos de idade. Segundo a senhora Cristiane Pereira Pinheiro, mãe de Katlen, em entrevista no inicio da noite de hoje, a filha dele desapareceu no dia 23 de março de 2003, em frente a Escola Municipal Presbiteriana, no bairro de Santa Rita Cássia. “Minha filha está hoje com 21 anos de idade. Mesmo após 13 anos e 7 meses após o desaparecimento, nunca parei de procurar, sei que ela está viva e vou encontrá-la”, diz Cristiane.

 

Após o desaparecimento da filha, Dona Cristiane criou o movimento “Mães da Liberdade e Justiça”. O grupo foi criado com objetivo de apoiar e ajudar a encontrar pessoas desaparecidas. O grupo tem apoio do movimento “Mãe da Fé”. As pessoas que tiveram filhos desaparecidos podem entrar em contato com Cristiane Pinheiro pelo celular (92) 99287-3396.

 

 

Direitos Humanos

 

 

Após receber a denúncia, a reportagem entrou em contato com o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) e informou o caso. O conselheiro Renato Souto, garantiu que após receber a formalização da denúncia, as investigações serão iniciadas. Souto confirmou que Parintins faz parte da rota do tráfico humano e que há investigações sobre casos de desaparecidos, como do travesti Bruno Amaral do Carmo, que foi levado para São Paulo.

Foi Renato Souto que denunciou a existência da rede de exploração sexual em Parintins, envolvendo principalmente políticos e empresários. A denúncia já foi feita ao Ministério Público do Estado do Amazonas (MPE-AM) que pediu a reabertura do caso envolvendo a morte da jovem Thaíssa Jordana de Souza Castro, que segundo as investigações do CNDH, foi assassinada em Manaus, aos 17 anos de idade, dentro de um motel.

“As pessoas que tiveram parentes desaparecidos ou vítimas de abuso sexual, exploração sexual ou conhece um caso de pedofilia, pode entrar em contato com o CNDH-AM, pelo email:[email protected] ou pelo aplicativo WhatsApp (92) 99395-7136”, informa Renato Souto.

Por Equipe Gazeta Parintins