‘Minha maior dor é que ele chamou por mim’, diz mãe de Dandara, a travesti morta de forma brutal

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Passado quase um mês da morte brutal da travesti Dandara em Fortaleza, no Ceará, a dor e revolta que insistem em acompanhar a família e amigos ainda estão longe do fim.

Dandara dos Santos, de 42 anos, levou chutes, pauladas e foi espancada até a morte em plena luz do dia em uma rua de Fortaleza, no último dia 15 de fevereiro.

O crime de ódio, que foi filmado e compartilhado nas redes sociais, reascendeu o debate sobre a vulnerabilidade de travestis e transexuais no Brasil, o país que mais registra mortes por transfobia no mundo, de acordo com a organização não governamental (ONG) Transgender Europe (TGEU).

Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no País.

“Açoitaram meu filho, governador. Fizeram tanta coisa ruim com ele… Eu não tive coragem de ver, mas me contaram tudo”, disse Francisca Ferreira, mãe de Dandara, durante reunião no Palácio da Abolição, de acordo com o jornal O Povo. “O senhor sabia que o sangue dele escorria pelo rosto, e ele ia limpando com a mãozinha assim?”

Minha maior dor é que ele chamou por mim. Enquanto batiam nele, ele dizia: ‘Eu quero minha mãe. Cadê a minha mãe?’ E eu não estava lá.

Ao G1, Francisca disse que o momento é de desespero. “Chorando e perguntado para Deus o que tinha acontecido. O que foi que esse menino fez meu Deus? Fiquei assim feito uma maluca sem saber acreditar. Se houve briga ou não”, disse emocionada.

Na última terça-feira (7), a Polícia Civil do Ceará prendeu o quinto e último suspeito de participar do assassinato de Dandara. Ao todo, foram detidos três adolescentes e dois adultos.

O caso ganhou repercussão nacional e o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), solicitou ao secretário de Segurança Pública, André Costa, que acompanhasse pessoalmente as investigações.

“Atos como desses covardes e vagabundos não são admitidos por nenhum cidadão de bem nem pela polícia. Precisamos de mais educação e orientação às pessoas, que aprendam a respeitar o próximo. A intolerância só gera consequências ruins. O povo cearense merece essa resposta e uma política de proteção às minorias”, disse o secretário ao G1.

Dandara era conhecida no Bairro Conjunto Ceará, na capital cearense, como uma pessoa boa, que não media esforço para ajudar vizinhos, amigos e familiares. “Ela nunca dizia um não. Ela podia estar cansada, mas era sempre prestativa. Para onde a gente pedia para ela ir, ela ia. Ela nunca dizia um não”, declarou a irmã Sônia Maria.

“Será que foi uma missão que Deus deu para meu filho [Dandara]? Dele ser sacrificado para ter essa repercussão internacional toda e mudar essa situação?”, perguntou Francisca Ferreira, segundo O Povo.

Desculpe por eu estar chorando, governador, mas eu não consigo parar de chorar.

De acordo com dados do Grupo Gay da Bahia, mais de 144 travestis foram assassinados em 2016 no Brasil. Só neste ano, já foram 23.

À BBC Brasil, Ferreira afirmou que Dandara não tinha inimigos e que distribuía sorriso a todos. Ela sabe que foi o crime de ódio que levou sua filha.

Meu filho não tinha inimigos, ele foi morto por preconceito. Por ser travesti, ele vivia sendo humilhado. Agora eu pergunto, qual o problema de ser assim, me diga?