Militantes do MAB realizam ato para denunciar violência em Rondônia

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Militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), junto aos familiares de Nilce Souza Magalhães, a Nicinha, realizaram hoje uma homenagem e um ato político em memória da pescadora atingida pela Usina Hidrelétrica (UHE) Jirau. O evento aconteceu na capela de Santo Antônio, às margens do Rio Madeira, em Porto Velho (RO).

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Uma pequena caixa abrigava os restos mortais de Nilce de Sousa Magalhães da militante do Movimento dos Atingidos Por Barragens, o MAB, assassinada há quase um ano.

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Só agora os familiares tiveram a confirmação do exame de DNA realizado na ossada encontrada há poucos mais de 5 meses.

A igrejinha de Santo Antônio lotou com familiares, amigos e todos que fizeram questão de prestigiar as homenagens à pescadora que morreu por defender as populações afetadas com as obras da usinas hidrelétricas no Madeira.

A missa foi celebrada pelo arcebispo de Porto Velho, Dom Roque e muitos movimentos sociais enviaram representantes.

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Os Cânticos, as leituras do evangelho, os instrumentos de trabalho no campo levados no ofertório, tudo simbolizava a luta por justiça.

“Felizes os que têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6).

Essa bem-aventurança também aparece em Lucas (Lc 6,21); porém, Mateus acrescenta “sede de justiça”.

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A crueldade contra Nicinha fortalece a luta de pessoas que anseiam pela prática da nova justiça, na qual todos possam ter direito à terra e ao pão, bens necessários para a sobrevivência.

Ninguém que viu ou acompanhou a luta de Nicinha acredita que ela foi vítima de um crime banal.

Em reportagem no Brasil de Fato, está claro que a luta em defesa do meio e das pessoas que nele vivem está ainda mais fortalecida. O velório e sepultamento de Nicinha foram também um ato político contra as graves violações de direitos humanos em conflitos por terra em Rondônia.

Além de Nicinha, outras 17 pessoas foram assassinadas só em 2016 no estado, número que representa 34% de todos os assassinatos envolvendo esse tipo de conflito no país neste ano.

A região conta ainda com 30 das 59 tentativas de assassinato; 93 das 144 pessoas que receberam ameaças de morte; 66 dos 80 camponeses presos; e 20 milhões dos 21 milhões de hectares em conflito. Rondônia é, portanto, o estado mais violento com militantes da reforma agrária e, entre as principais causas, estão as obras de infraestrutura.

“Um dos grandes motivos para ter essa quantidade de mortes é a valorização do preço da terra. Rondônia está em uma posição estratégica para o capital internacional, porque estamos localizados no eixo da iniciativa de integração regional sul-americana, um tratado entre vários países que prevê vários grandes projetos de infraestrutura. Aqui no rio Madeira teremos mais duas hidrelétricas, além das que já foram construídas”, explica João Marcos Dutra, da coordenação do MAB em Rondônia.

Outro fator, segundo Dutra, é que o estado faz a interligação do centro do país, da produção de soja, com a saída para o Pacífico, diretamente para a China. Tudo isso eleva o preço da terra e tem acirrado as disputas.

Histórico

Dutra lembra que em 2011, a comunidade ribeirinha de Mutum Paraná, distrito de Porto Velho, foi removida para que o local fosse submerso pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Jirau, e realocada em Nova Mutum Paraná.

A vila foi construída para reassentamento das famílias e tem capacidade para até seis mil habitantes. Até a finalização das obras abrigou funcionários e deveria ser revertida, em 2012, para habitação de outras famílias impactadas pela barragens. No entanto, as casas permaneceram desocupadas e algumas foram até comercializadas por uma empresa subcontratada pelo consórcio responsável pela Jirau.

Diante da precariedade em que se encontravam, um grupo de famílias atingidas se organizou e promoveu a ocupação das casas vazias em Nova Mutum Paraná, em 2014. O local, que já sofria com encharcamento do solo e contaminação da água para consumo humano, foi devastado por uma grave enchente que aconteceu em toda extensão do Rio Madeira, em 2014.

Nesse contexto de injustiças e adversidades, Nicinha e mais duas companheiras, Lurdilane Gomes da Silva, mais conhecida como Ludma, e Iza Cristina Bello, apelidada de Índia, compuseram a Comissão de Defesa da Ocupação. Em parceria com o Ministério Público do Estado de Rondônia, políticos locais e o MAB, elas travaram enfrentamento contra os consórcios controladores das usinas, em defesa dos direitos das famílias atingidas e passaram a ser ameaçadas e perseguidas.

Após o desaparecimento de Nicinha, em janeiro deste ano, as ameaças a Ludma e Índia, se intensificaram, o que levou ao pedido de inclusão no Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos (PPDDH).

“Até agora não tivemos a inclusão definitiva delas no programa, mesmo após o assassinato da Nicinha e com as provas palpáveis das ameaças, como vídeos, áudios etc. O que a gente pode fazer é se organizar cada vez mais para expor menos os nossos militantes”, afirma Dutra. Segundo ele, os conflitos na região diminuiriam se houvesse vontade política e jurídica a favor da população local.

O ato foi uma denúncia contra as graves violações de direitos humanos em conflitos por terra em Rondônia. Além de Nicinha, outras 17 pessoas foram assassinadas só em 2016 no estado, número que representa 34% de todos os assassinatos envolvendo esse tipo de conflito no país neste ano.

A região conta ainda com 30 das 59 tentativas de assassinato; 93 das 144 pessoas que receberam ameaças de morte; 66 dos 80 camponeses presos; e 20 milhões dos 21 milhões de hectares em conflito. Rondônia é, portanto, o estado mais violento com militantes da reforma agrária e, entre as principais causas, estão as obras de infraestrutura.

“Um dos grandes motivos para ter essa quantidade de mortes é a valorização do preço da terra. Rondônia está em uma posição estratégica para o capital internacional, porque estamos localizados no eixo da iniciativa de integração regional sul-americana, um tratado entre vários países que prevê vários grandes projetos de infraestrutura. Aqui no rio Madeira teremos mais duas hidrelétricas, além das que já foram construídas”, explica João Marcos Dutra, da coordenação do MAB em Rondônia.

Outro fator, segundo Dutra, é que o estado faz a interligação do centro do país, da produção de soja, com a saída para o Pacífico, diretamente para a China. Tudo isso eleva o preço da terra e tem acirrado as disputas.

Histórico

Dutra lembra que em 2011, a comunidade ribeirinha de Mutum Paraná, distrito de Porto Velho, foi removida para que o local fosse submerso pelo reservatório da Usina Hidrelétrica de Jirau, e realocada em Nova Mutum Paraná.

A vila foi construída para reassentamento das famílias e tem capacidade para até seis mil habitantes. Até a finalização das obras abrigou funcionários e deveria ser revertida, em 2012, para habitação de outras famílias impactadas pela barragens. No entanto, as casas permaneceram desocupadas e algumas foram até comercializadas por uma empresa subcontratada pelo consórcio responsável pela Jirau.

Diante da precariedade em que se encontravam, um grupo de famílias atingidas se organizou e promoveu a ocupação das casas vazias em Nova Mutum Paraná, em 2014. O local, que já sofria com encharcamento do solo e contaminação da água para consumo humano, foi devastado por uma grave enchente que aconteceu em toda extensão do Rio Madeira, em 2014.

Nesse contexto de injustiças e adversidades, Nicinha e mais duas companheiras, Lurdilane Gomes da Silva, mais conhecida como Ludma, e Iza Cristina Bello, apelidada de Índia, compuseram a Comissão de Defesa da Ocupação. Em parceria com o Ministério Público do Estado de Rondônia, políticos locais e o MAB, elas travaram enfrentamento contra os consórcios controladores das usinas, em defesa dos direitos das famílias atingidas e passaram a ser ameaçadas e perseguidas.

Após o desaparecimento de Nicinha, em janeiro deste ano, as ameaças a Ludma e Índia, se intensificaram, o que levou ao pedido de inclusão no Programa de Proteção de Defensores de Direitos Humanos (PPDDH).

“Até agora não tivemos a inclusão definitiva delas no programa, mesmo após o assassinato da Nicinha e com as provas palpáveis das ameaças, como vídeos, áudios etc. O que a gente pode fazer é se organizar cada vez mais para expor menos os nossos militantes”, afirma Dutra. Segundo ele, os conflitos na região diminuiriam se houvesse vontade política e jurídica a favor da população local.

Mais RO com Brasil de Fato e Blog da Luciana Oliveira