MASSACRE DE INDÍGENAS NO AMAZONAS

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Por Rodrigo Berté (*)

Enquanto em outros países, as culturas de populações isoladas são preservadas, o Brasil carece de referências

Mais um episódio trágico está sendo investigado pelo Ministério Público Federal do Amazonas. É o caso de dois supostos massacres de indígenas – um ocorrido em maio e outro, em agosto – no Vale do Javari, a aproximadamente mil quilômetros da capital Manaus. Os índios fazem parte de uma etnia isolada chamada Warikama Djapar e moram nas proximidades dos rios Jandiatuba e Jutaí, na fronteira do Brasil com o Peru.

Essa ação teria sido promovida por garimpeiros na busca de lavras de ouro nesses locais. É sabido que por mais que o solo amazônico seja pobre para algumas culturas, o subsolo é rico em minérios, o que atrai os garimpos clandestinos, em especial na lavra de ouro. Por outro lado, há uma hipótese de que o mandante deste massacre seja um produtor agrícola da região, mas ainda se trata de especulação. Na área, que corresponde a duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro, há indícios de grilagem e invasão de terras.

A Funai (Fundação Nacional do Índio), órgão responsável pela proteção dos índios no Brasil, depois de ter ouvido alguns relatos sobre o episódio, expediu um comunicado pedindo aos procuradores do Ministério Público Federal que investiguem e examinem o assunto.

O Ministério Público Federal não divulgou ainda o número de vítimas, mas uma ONG que atua na região afirmou em nota que ao menos dez pessoas foram mortas, entre adultos e crianças. Também ainda não há provas materiais dos assassinatos, de acordo com as autoridades, mas caso confirmem as mortes este seria um dos maiores massacres indígenas que não tem contato com o homem branco desde o assassinato de 16 índios Yanomamis em Roraima em 1993.

É importante que este relato seja investigado pelas autoridades e que os responsáveis deste possível episódio trágico sejam punidos. Ano a ano, o Brasil perde parte da sua cultura ecológica pela ausência de políticas públicas adequadas aos diferentes grupos étnicos. Enquanto em outros países aspectos etnoecológicos são preservados como patrimônio nacional e cultural, nosso país carece de referências.

(*) Rodrigo Berté é diretor da Escola Superior de Saúd