Homofobia no BBB18: Mahamud não gostou de ser chamado de “viadinho da casa”

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Rio- O participante do BBB18 de Rondônia, sexólgo Mahamoud, ocupou as redes sociais hoje para justificar o desconforto que foi ter sido chamado pela acriana Ana Paula, de o “viadinho da casa”. Ele não gostou! E nem era para gostar. Sobre os comentários que estão circulando pelo fato do Mahmoud ter sido chamado de “viadinho” e não ter gostado.  O termo “veado” é tratado com normalidade pelo brasileiro, mas, que faz muita gente sofrer na infância e adolescência. Quem o conhece Mahamoud, sabe que suas lutas diárias para quebrar tabus que ainda existem no Brasil. E ele está no BBB18 não para ser conhecido aqui fora como o “viadinho” da casa, mas por alguém que luta pela igualdade de gênero e contra a homofobia. Quem já sofreu algum tipo de preconceito está entendendo sua mensagem e sentindo-se representado.

MAHMOUD EXAGEROU?
(Spoiler: Não!)

Esse é um daqueles textos que começam sobre algo que parece banal tipo o BBB e termina falando de coisas mais sérias.

Acontece que lá no segundo dia na casa do BBB, vários participantes foram brincar de “Verdade ou Consequência” na cozinha. Em um desafio, disseram para Mahmoud – que é gay –
brincar de seduzir outro participante, Breno, que é hétero. Ana Paula, que participava da brincadeira, começou a gritar dizendo que aquilo não tinha nada a ver, que o Breno já tinha dado um selinho em outra menina (Jaqueline) e, por fim, gritou “Mas ele é v*ado!”. (Por mais que eu não tenha problemas em escrever essa palavra, infelizmente, o Facebook deleta posts e pune pessoas por escrevê-la na rede, mesmo quando isso é feito sem um contexto ofensivo. Essa informação, aliás, é importante para a discussão deste post.)

Mahmoud, muito calmamente, disse: “Tenho muito orgulho da minha orientação afetivo-sexual, mas eu gostaria que me chamassem pelo meu nome”. Horas depois, ele e Ana Paula chegaram a conversar, mas, mesmo assim, ela ainda foi alvo do voto do sexólogo após a prova do líder. E a Internet se dividiu.

Parte do público diz que Mahmoud exagerou e que não há nada de errado em ser chamado por aquela palavra. Mas essa galera está esquecendo de uma coisa importante: Temos experiências individuais que fazem com que possamos ser ou não ofendidos por ser ou não chamados de determinados nomes por determinadas pessoas em determinados momentos e espaços.

Voltando a falar do Facebook: Qual o grande erro da rede na hora de bloquear posts? Eles procuram por palavras ofensivas, quando a ofenda não está necessariamente na palavra. Alguém pode ser muito ofensivo sem usar nenhuma palavra pejorativa, enquanto outro alguém pode ser extremamente carinhoso usando palavras até pesadas. Um exemplo disso são conversas de homens héteros cariocas, que sempre se chamam por palavrões. Culturalmente, neste grupo, chamar pessoas por determinados nomes e não ter problema mostra uma intimidade que foi construída.

Pessoalmente, não me importo de ser chamado de “v*ado” ou de “b*cha”, mas não por todas as pessoas e nem em todos os momentos. Outros LGBTs, por exemplo, tá ok me chamar assim. Amigos próximos também tá ok. Se você é cis-hétero e não me conhece ou não tem intimidade comigo, eu tenho um nome e é por ele que eu gostaria de ser chamado. Uma vez, até dei uma bronca na tia de um namorado que só me chamada por esse termo usado pela Ana Paula no BBB. Eu falei “Eu sei que eu sou isso, todo mundo sabe que eu sou. Mas, primeiro, eu não te chamo de ‘hétera’ o tempo todo, mas pelo seu nome. Depois, eu sou um monte de outras coisas além de gay. Ninguém, por exemplo, fica falando comigo dizendo ‘ô, canhoto!’ ou ‘ô, leonino!'”. Tal qual a Ana Paula, ela achou que eu estava exagerando.

O caso da Ana Paula, a meu ver, é ainda mais sem noção que o da tia do meu ex. A tia do meu ex já me conhecia há algum tempinho – mesmo não tendo intimidade. A Ana Paula conhecia o Mahmoud há menos de 30 horas. A tia do meu ex falou a palavra na sala de uma casa comum. A Ana Paula falou a palavra na cozinha de uma casa cheia de câmeras que transmitem as conversas para o Brasil inteiro. A tia do meu ex falou para me chamar. Ana Paula falou para tentar cortar uma brincadeira na qual Mahmoud seduziria outro rapaz.

Após vencer a prova do líder, Mahmoud contou que a maneira como Ana Paula falou a palavra o lembrou de muitas ofensas que sofreu quando era mais jovem. Essa é a outra chave para entender a história.

Mas como a Ana Paula saberia que ia ofender o Mahmoud usar essa palavra para falar sobre ele? Bem, ela não tinha como saber. E, quando a gente não sabe, o que podemos fazer? Perguntar.

Recentemente, uma colega de trabalho perguntou: “Renan, tá tudo bem eu te chamar de ‘v*ado’?”. Eu falei que sim. Ela contou que chama o melhor amigo dela, que também é gay, assim, mas ela sabia que não é todo cara gay que gosta de ser chamado assim e não é todo cara gay que dá a ela a intimidade de chamá-lo assim. Quer um exemplo disso dentro do próprio BBB? Logo no primeiro dia, o participante Caruso perguntou para o participante Viegas, que é negro e usa dreads, se ele poderia chamá-lo de “Rasta” (em referência a “Rastafari”). Viegas permitiu e, só então, Caruso passou a usar o termo.

Mahmoud, então, não exagerou, porque ele tem o direito de ser chamado pelo seu nome e ter sua homossexualidade tratada da mesma maneira que a heterossexualidade dos outros participantes é tratada. E, se ele quiser ser chamado de “v*ado”, ele tem o direito escolher quem o chama assim e quando o chama. Direito que todo LGBT também tem.

PS.: Se a Ana Paula tivesse dito “Desculpa, não sabia que ia te ofender. Não farei mais.” a treta acabava ali e ela ainda teria mostrado que é aberta a críticas. Não foi o caso.

R Wilbert