DINHEIRO DESVIADO POR CABRAL DARIA PARA PAGAR QUATRO ANOS DE ALUGUEL SOCIAL NO RJ

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Montante de R$ 220 milhões poderia garantir, ainda, o funcionamento de restaurantes populares por quase quatro anos. Seria possível, também, financiar, pelo mesmo período, oito secretarias que o governo pretende excluir.

Chamada de taxa de oxigênio, a propina paga ao ex-governador Sérgio Cabral e seus aliados daria um respiro aos cofres do Rio de Janeiro em meio à grave crise financeira. Segundo investigadores da Operação Lava-jato, foram desviados R$ 220 milhões, referentes a subornos pagos em contratos de grandes obras.Com esse montante, seria possível bancar, por exemplo, os custos do programa Aluguel Social por quatro anos e três meses. O dinheiro é destinado a famílias de baixa renda que perderam suas casas ou foram removidas. A extinção do programa está no pacote de ajustes que o governador Luiz Fernando Pezão enviou para Assembleia Legislativa do Rio.A fortuna desviada também seria suficiente para  quitar 10% da folha de pagamento de outubro, de acordo com dados da Secretaria de Planejamento. Milhares de servidores ainda não receberam o salário do mês. O montante ainda pagaria 14 meses do programa Renda Melhor. O benefício é dado a quem recebe o Bolsa Família, mas também corre o risco de ser extinto.

Na opinião do consultor econômico Raul Velloso, no entanto, mesmo que os R$ 220 milhões retornassem rapidamente aos cofres do estado, a crise não estaria resolvida.

‘O lugar onde o dinheiro deveria estar é o cofre público. Só que nós não podemos conjecturar que aquilo vai resolver o problema do Estado, ou que vai resolver determinado problema. Os valores de corrupção são referentes a um certo período. A não ser que você imaginasse que aquela corrupção seria para o resto da vida, e que na hora do corte, a receita será duradoura’, opina.

A fortuna desviada por Cabral e seus aliados também seria suficiente para custear o funcionamento de restaurantes populares por 3 anos e 10 meses, ou para manter por um ano o adicional para tempo de serviço dos servidores. E ainda financiar pelo mesmo período as oito secretarias e as sete autarquias e fundações que o governo pretende excluir.

Para o economista da Universidade Estadual do Norte Fluminense Alcimar Ribeiro, o valor encontrado pela operação Lava-jato é importante, mas o estado precisa rediscutir os bilionários incentivos fiscais dados a empresas. Segundo o Tribunal de Contas do Estado, foram R$ 185 bilhões entre 2007 e 2015, anos em que Cabral e seus aliados  comandaram o estado.

‘E isso que deveria ser discutido e renegociado, porque são grandes empresas nacionais e internacionais. E isso tem um peso muito grande porque agora o governo quer aumentar impostos para as empresas que pagam, que são as pequenas e médias. E elas não suportam isso. O grande culpado da crise não é a folha de pagamento, apesar de ter subido muito. Mas não é em função do salário pago ao servidor’, afirma.

Os anos de grandes obras e de expectativa para megaeventos ficaram na lembrança e, em meio ao caos econômico, o Rio entrou em colapso político nesta semana. A prisão de Sérgio Cabral por desvio de dinheiro público no dia seguinte à detenção do ex-governador Anthony Garotinho, acusado de uso da máquina para fins eleitorais, colocam em xeque o futuro do estado.

Para Henrique Silveira, coordenador executivo da Casa Fluminense, organização de elaboração de políticas públicas, o momento de crise é fundamental para pensar no planejamento dos gastos estatais.

‘Em um momento de crise como esse, mais do que nunca a gente precisa valorizar o planejamento, para quando o recurso voltar a ter, a gente ter um planejamento do que fazer. Para sabermos onde vamos investir. Porque, por exemplo, investiu-se muito em teleférico e isso não levou a lugar nenhum. A população do Complexo do Alemão queria saneamento básico’, defende.

A soma do colapso econômico com agravamento da crise política cria um quadro de incertezas que pode impactar no crescimento das manifestações contra o atual governo. Para Felipe Borba, cientista político da Unirio, a  prisão de ex-governadores repercutirá mais por conta da crise econômica.

E’conomia influencia política, política influencia economia. A insatisfação aqui é muito ligada a questão econômica do Estado, que está quebrado. E isso gera a repercussão na população’, diz.

Em meio às dificuldades financeiras e aos desdobramentos das prisões de Cabral e Garotinho, o governo Pezão terá embates na Assembleia Legislativa na próxima semana, a segunda de discussões para o pacote de ajustes. Servidores devem voltar a realizar protestos.