Alunos da rede estadual de Cacoal conquistam 1º lugar na Ferocit com exposição de conhecimento indígena

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Durante a feira, alunos fizeram mais de 100 aplicações do alisante natural de cabelos
Durante a feira, alunos fizeram mais de 100 aplicações do alisante natural de cabelos

É da aldeia onde aconteceu o primeiro contato entre os Paiter Surui e os não-índios, em 1969, que saiu o projeto vencedor, na categoria Ensino Médio, da Feira Científica de Inovação e Tecnologia de Rondônia (Ferocit), realizada pelo governo estadual, em Porto Velho, entre os dias 6 e 8 deste mês.

Os alunos Oikolalap Sulivan Suruí e Charles Oywewamê Suruí, sob a orientação do professor Cleverson Fernando Silva,  levaram à Ferocit o “Alisante Natural para Cabelos”. A partir do conhecimento indígena, alunos e professor estudaram a planta que, assim como garantiram os indígenas da aldeia Nabekod Abadakiba, é responsável por garantir o liso, a cor e a saúde do cabelo dos indígenas.

“Nós sempre usamos esta planta para deixar nossos cabelos mais bonitos. É um conhecimento que a gente tem de geração em geração. Por isso eu e minha mãe levamos o Sulivan na mata para mostrar qual era a planta certa, pois na mata tem muitas plantas quase iguais, são detalhes que diferenciam esta de outra planta. Então a gente mostrou como se utilizava essa planta e o Sulivan e o Charles levaram o resultado para Porto Velho, onde ganharam o troféu. Eu chorei quando o Sulivan e o Charles ganharam esse prêmio”, destacou Pamaya Surui, mãe de Sulivan.

De acordo com o professor Cleverson Fernando, todo o trabalho foi feito com o apoio da comunidade Paiter Suruí, localizada na Linha 12, área rural de Cacoal. Conforme explicou o professor, o uso desse extrato vem sendo feito há muitos anos pelos indígenas, sendo um conhecimento deles, motivo pelo qual o professor optou por não divulgar o nome científico da planta milagrosa. “Esse conhecimento é deles, e quem sabe no futuro possam desenvolver um produto sustentável, que gere renda à comunidade”, enfatizou o professor.

O uso da planta Pãrha Sihn para alisar e higienizar os cabelos, além de inibir o surgimento de caspas é de conhecimento dos indígenas Paiter Surui há centenas de anos

Sobre a comprovação dos resultados obtidos com o tratamento à base da planta Pãrha Sihn, Cleverson Fernando destacou que, a princípio, a comprovação dos resultados tem sido feita na prática. “Os primeiros resultados deste extrato na fibra capilar nós constatamos, através de um microscópio simples, onde pudemos ver a estrutura do fio antes do uso e depois de utilizarmos essa planta imediatamente todas as escamas da fibra capilar estavam fechadinhas. Mas os verdadeiros resultados são atestados na prática há centenas de anos pelos indígenas, com base nas experiências de vida deles. Além disso, para desenvolver o projeto, aplicamos o extrato em diversos tipos de cabelos e o resultado foi visível em todos eles”.

Com relação à comprovação e curiosidade das pessoas sobre o alisante natural, o aluno Oikolalap Sulivan Surui disse que a própria Ferocit foi um lugar para provar ainda mais que o conhecimento indígena tem valor. “Durante a feira, nós passamos o produto em umas 100 pessoas. Todo momento tinha alguém no nosso estande querendo passar. Teve gente que passou o produto no primeiro dia, viu a diferença, voltou para passar no segundo e no último dia da feira. Então isso deixou a gente muito feliz”, garantiu Sulivan, que hoje cursa o 3º ano do ensino médio.

Em relação á participação na Ferocit, Sulivan não escondeu sua felicidade. “Eu tô muito feliz por ter ido lá mostrar o conhecimento do meu povo e mostrar uma, entre tantas plantas, que a gente usa para o nosso bem. Não é porque a gente vive na floresta, que a gente não se cuida. Esta planta, além de alisar os cabelos, serve como um shampoo para limpar e também ajuda a acabar com a caspa. É um conhecimento que vem de muito tempo, que era muito mais usado do que é hoje, mas que a gente tenta mostrar através deste trabalho que realmente funciona e vale a pena usar”, ponderou.

Para dar continuidade à pesquisa, o professor de química Cleverson Fernando Silva enfatizou que durante a Feirocit o vice-governador Daniel Pereira garantiu que irá colaborar com a pesquisa para que os estudos avancem e a eficácia do extrato seja cientificamente comprovada. O professor espera que estudos sejam feitos em laboratórios mais preparados, que possam avaliar todas as propriedades da planta e os resultados que ela pode gerar.

Para o cacique Anini Surui, seu povo se sente honrado com a conquista dos alunos. “É maior honra e temos que agradecer ao pessoal que ajudou. É muito bom quando os não-índios reconhecem a nossa cultura, o nosso conhecimento. Esta floresta alimenta a gente. Nós tiramos dela o alimento, os remédios, perfumes, tudo o que a gente precisa. Todo o conhecimento que nós temos, a gente tenta passar para os nossos jovens”, enfatizou.

Alunos de oito escolas de Cacoal participaram da Ferocit

A Ferocit é um evento regional científico de inovação tecnológica surgido da necessidade de popularização e incentivo da ciência em Rondônia, através da motivação de intercâmbio entre alunos pesquisadores, professores orientadores e toda a sociedade de forma geral. Oito escolas de Cacoal foram classificadas e participaram da feira, que reuniu ao todo 53 instituições de ensino. Das escolas participantes de Cacoal, seis eram indígenas, das quais três foram premiadas.

Além do primeiro lugar conquistado pelos alunos Charles e Sulivan, os alunos Gelson Gamakurueõhp Suruí e Ezequiel Gamawewaht Suruí, sob orientação do professor Joaton Pagoter Suruí, conquistaram o quarto lugar no ensino médio. Já no ensino fundamental, quem se destacou, conquistando o quarto lugar, foram os alunos Sanabria Pamametg Rkbaktsa Suruí e Priscila Palogan Suruí, que desenvolveram o projeto com apoio do professor Iakauã Palilot Leite.

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Fonte
Texto: Giliane Perin
Fotos: Giliane Perin
Secom – Governo de Rondônia