ADEUS AO WALTER MIRANDA DA LIVRARIA CENTRAL

0
1988

Adeus ao Miranda

 

Quando cheguei a Porto Velho, há 20 anos, passei a frequentar a banca do Antônio, atualmente rebatizada como banca do barão. Peguei muitas revistas de cinema e fitas VHS de coleções de filmes e coleções de CDs, entre tantas outras coisas. Mas, eu precisava mesmo era encontrar um sebo para uma caça aos tesouros perdidos. Um dia, e lá vão 17 anos, passando na Carlos Gomes, me deparo justamente com o que tanto ansiava: um sebo, que tantos anos depois se transformaria em Livraria Central, sempre sob o comando do austero e ao mesmo tempo brincalhão Walter Miranda, daí o título deste texto.

 

Pois ontem, à tarde, recebi de uma amiga, a Diva, que trabalhou muito tempo no sebo e na banca, a triste notícia. O Walter havia falecido, noite passada, vítima de um enfarte fulminante. Pouco depois de fechar a livraria, ele se sentiu mal e antes de ser socorrido, morreu. Imagino o desespero da Magda, sobrinha e braço direito do Walter, na gestão da afamada e bem movimentada livraria, onde muitos vão para saber as novidades do mundo dos livros, dos quadrinhos, as aquisições em dvds, CDs e livros usados que ele vendia aos montes.

 

Quarta-feira mesmo telefonei para saber se uma revista de cinema que coleciono havia chegado. Quem atendeu foi a Magda – a quem sempre chamei de Magdinha, que disse – O Walter acabou de sair para buscar revistas na distribuidora. Liga daqui a duas horas. Não liguei. Deixei para telefonar hoje, mas todas às vezes em que tentei, ninguém atendeu. De repente a bomba. O Walter morrera. Todos de luto. Pena não poder ir dizer adeus. O enterro aconteceu às 15 horas. Eu saio do trabalho um pouco mais tarde.

 

Frequentei muito a banca e pretendo continuar. Ali encontrei livros que eu procurava há algum tempo. Completei minha coleção da série Literatura Comentada, encontrei muitos títulos, como Lamarca, o capitão da guerrilha, o livro sobre Anayde Beiriz, inspirou o filme Parayba mulher macho. Perdi a conta de quantos livros de cinema comprei lá. Foi na banca que fiz amizades duradouras, como a própria Magda, a filha dela, a Indianara, a Diva, o Walter. Vai fazer falta.

 

Às vezes conversávamos sobre filmes antigos. A preferência dele, os filmes em preto e branco. E também curtia antigos faroestes. Ele dizia não ter paciência para assistir novas produções. Muito barulho e pouca história. Pois é, caro Walter, nunca imaginei que escreveria sobre você e de sua morte prematura. Morte que pegou a todos seus clientes, digamos, de surpresa. A banca não será mais a mesma. Quantas vezes negociei uma compra ou venda de livros ou dvds?

 

Quantas vezes, o vi com sua característica blusa branca, a barba, seu jeito, sua ironia, seu bate papo, seu jeito de chamar a Magda, sempre solícita e pronta para atender ao tio. Certamente, ela é a que mais sentiu o baque da perda. Ela que vai carregar esta dor e tristeza pelo resto da vida. Cada vez que olhar às horas e for fechar a livraria, há de se perguntar, cadê o Walter? Mas ele continuará lá e em cada revista, livro, parteira, cada cd ou dvd.

 

Walter, você se foi fora do combinado. A vida é assim mesmo. Não direi a clássica frase – Deus sabe o que faz ou aquela outra – Ele foi para um lugar melhor. Uso aqui a resposta do genial diretor de cinema, Woody Allen, quando perguntado sobre o que achava da morte, ele foi taxativo – Não concordo. E nem eu. Descanse em paz Walter Miranda.

 

Humberto Oliveira