A hipótese Daniel

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Por José Armando Bueno (*)

O vice-governador Daniel Pereira está no epicentro de todo e qualquer movimento político e eleitoral até o dia 30 de outubro de 2018, quando acontece o segundo turno das eleições. Até lá, tem parte significativa do comando político do estado em suas mãos, queiram ou não quaisquer dos atores políticos de Rondônia, sob quaisquer desdobramentos factíveis. A base das minhas afirmações não é a que corre pela sarjeta, puro bisbilhotar, ora por incapacidade analítica, ora por interesse nutrido por alguns trocados, poder ou o mal do século, o egocentrismo e seu irmãos. Aliás, a especulação na abordagem popular, que é esse bisbilhotar, não tem nada a ver com a especulação como método científico, da hipótese e a construção de base empírica. Daí o título deste blog, essencialmente assentado em minha intensa tarefa de observar, da experiência obtida no cotidiano das vivências e, especialmente, no contexto necessariamente indutivo do processo político, coberto pela colcha de retalhos das fontes. Tem-se aí um resultado. Este resultado. Acima dele o tempo, o senhor da razão, pela confirmação ou não dos assentamentos deste escriba digital.

A SEMANA  | Esta semana, que de fato deu início a este 2018 transbordante – e que não tem nada a ver com a cheia do Madeirão – já apontou o por quê extravasa, derrama-se e espalha-se promovendo incertezas, medos e transtornos de toda ordem. Dois fatos embalaram a semana e vieram a fechar esta composição que estou tecendo tem mais de uma semana. A primeira, na quarta-feira, foi a quase implosão dentro do PSB, pela posição dura e intransigente do ex-prefeito Mauro Nazif, em negar a entrada do governador Confúcio Moura em suas fileiras. Março aproxima-se velozmente, e isto está deixando a todos com o que resta dos nervos à flor da pele. Para aqueles que já substituíram nervos por fios de aço, normal, quase tranquilo não fosse a permanente tensão. Mas, dependendo da tensão, até o aço rompe-se.

O PEDÁGIO 1  |  Acolher um governador que precisa migrar para nova legenda não é uma tarefa fácil. A engenharia política que envolve a inegável necessidade do governador Confúcio em mudar de partido é complexa, eivada de interesses via-a-vis, e tem dificuldades que mais se aproximam da operação de escalada do Everest no Himalaia, do que o monte Chico Mendes em Ouro Preto d’Oeste. O governador não tem saída para manter-se protegido pelo manto do foro privilegiado – e assim manter-se à distância das dificuldades jurídicas que cedo ou tarde terá de enfrentar. É do jogo e ponto final. A questão é que, não é qualquer partido que cabe na estatura do governador e sua pretensão eleitoral e, junto com ele, seu staff. Talvez dois ou três com cacife político à altura do governador. De três, apenas um oferece uma avenida para que Confúcio coloque seu bólido para rodar até o dia 2 de outubro: PSB. Não é pelos belos olhos amarelos e vermelhos do PSB que Confúcio apaixonou-se. Como médico ele sabe que esse amarelão é mau agouro, e o vermelhão o verniz das hostes socialistas. Ainda que seu velho PMDB tenha adotado o amarelo em campanhas, a simpatia vem mais das alquimias espirituais dos bastidores do que preferências cromáticas ditadas por marqueteiros.

O PEDÁGIO 2  |  Mauro “Gilson” Nazif, cujo sangue árabe-palestino dá-lhe habilidades para negócios e negociações, não senta-se à cabeceira da mesa e sim à porta de entrada do partido, tomando conta da bilheteria. Receber um governador no estrelato, com altos índices de aprovação, submetido aos holofotes da mídia nacional e com uma freeway de oportunidades políticas à frente, requer não apenas o tapete vermelho da maximização do poder, mas um pedágio quase resgate, no mínimo. Partido político não é casa de caridade, não tem as portas abertas das igrejas e existe, também, como um bom negócio, ainda que ao arrepio dos puristas e patrulheiros de plantão. É assim no mundo inteiro e desde que o mundo é mundo. Confúcio pode oferecer listas de benefícios à sua entrada no PSB, mas sem dim-dim, nada feito. Nem a transferência do cetro imperial ao novo rei Daniel Pereira, pode garantir meia entrada na bilheteria ou um bom desconto para sua alforria partidária.

O DESESPERO  |  Simulacro de oportunidade foi a manifestação da cúpula do MDB na sexta-feira, um dia após o veto à entrada do governador no PSB. Simulacro porque, na realidade, o desespero assomou o partido, num ato de fórceps que coloca em risco tudo e todos. Fórceps podem deixar marcas, danos severos e até matar um recém-nascido. Querer uma chapa puro-sangue com um candidato ao governo no chão, com dois candidatos ao senado próximos de um embate sanguinário, e demolindo estruturas de poder que exigiram muito mais do que tempo, é jogar o MDB no inferno dos pecadores compulsivos sem recuperação. A cópula em incesto da cúpula emedebista transpirou adrenalina pura, quase um frenesi, algo impensável a menos de um ano. Até o senador Raupp foi rebaixado a pré-candidato a deputado federal, num tiroteio midiático que pretendia derrubar um monólito do partido, a deputada Marinha Raupp. No mínimo um desvario digno de noiado. Isso sem contar a notável ausência do governador em ambos os episódios em que seu nome foi lançado. Se autorizado sem ter comparecido já é ruim, imagine não desautorizado. Se algum dia o partido e seus comandantes dominaram algo que se aproxime de uma estratégia, neste momento foram todos jubilados por incompetência e abuso. Nem eu acredito no que estou vendo, ainda que tenha visto de quase um tudo.

NASCE O SÁBIO  |  Todo este quadro aproxima-se da obra de Dante. E ainda que as chamas do inferno estejam queimando vivos próceres da política rondoniense ou, no mínimo, causando-lhes queimaduras de terceiro grau, um ser quase diáfano passa quase ao largo desse desastre previsível: Daniel Pereira. Por dentro, um vulcão próximo à explosão, por fora um pássaro que sobrevoa a cena e dá suas bicadas aqui e ali, sempre bem recebido em todas as plagas e por todos os públicos. A sabedoria trás consigo a calmaria, a sobriedade, o silêncio quase sepulcral. E Daniel Sábio Pereira tem-se saído tão bem quanto Jesus ao caminhar sobre as águas, sob o olhar incrédulo dos descrentes. Seus 30 anos na estrada política, construída com gigantesco esforço e overdoses de sabedoria e paciência, com mais vitórias que derrotas e mais fãs evangelizadores que seguidores interesseiros, Daniel, como seu ancestral divino, também foi jogado à cova dos leões. E sobreviveu. E mais que um sobrevivente, é um vencedor. E agora prepara-se para atingir o topo de um cume aonde pouquíssimos conseguem chegar limpos, ilesos e com amplo lastro de aprovação e apoio.

MAURÃO? TRUCO!  |  Ainda que o bilheteiro do PSB rondoniense imponha condições a tudo e a todos, não pode barrar a acensão do seu melhor quadro em toda a história. Seria suicídio e o médico árabe-palestino sabe que este custo ele não poderia suportar até o resto dos seus dias. Confúcio passa a faixa para Daniel, impreterivelmente, antes de 31 de março. A probabilidade disto não acontecer é zero, pois até para um suicídio político o outro sábio que responde pelo nome de Confúcio, já teria preparado sua saída no final do seu primeiro governo entrando para o segundo. Maurão, ainda que alertado por mim, não fez a lição de casa. Um misto de autossuficiência com tendência ao truco sem a mão do jogo, e sem qualquer estratégia, projeto, programa e profissionalismo, atirou-se antecipadamente à disputa, fiado na promessa de outrora do partido que o acolheu. Deu no que deu diria outro sábio, Darci Ribeiro. Resta-lhe lutar para manter-se na cadeira ou, se o tsunâmi de março lançar-lhe uma cadeira de vice. E só existe uma. Quer arriscar Maurão? Truco!

ACIR, POUPE-SE!  |  O senador Acir, outro político imerso na autossuficiência mas pouco afeito ao truco, parece entender que não pode submeter-se ao desgaste de uma campanha sanguinária, ainda que mantenha o mandato, pois 2022 observa-o à espreita. Um erro hoje poderá custar-lhe um próximo mandato. O senador tem rejeição sim, não sabe abraçar e é muito ruim no vídeo, vital nestas eleições. Não convence. Também não prospera uma vereadora pedetista como vice do diáfano Daniel. Portanto Acir, poupe-se, porque o seu futuro político não é tão brilhante quanto você quer fazer crer. Assim, o bloco partidário em formação liderado pelo PDT, migra rapidamente para as mãos do PSB. O PDT fica junto, claro, mas não no comando. E o bloco partidário em frenesi suicida precisa construir uma barreira de contenção, pois nomes fortes já se acertaram com partidos menores, outros não serão eleitos e outros do clero estadual ainda vão para a cadeia. Sim, este é o MDB, o maior partido de Rondônia, balançando-se sobre o abismo por falta de uma estratégia.

NASCE A HIPÓTESE  |  Diante deste quadro claro e límpido, nasce a Hipótese Daniel. O corredor polonês deste 2018 será inócuo porque ele é diáfano, transparente, inacessível aos golpes, ainda que forças ocultas queiram alcançá-lo. Ele tem tempo, insumo raro e caro que os outros não têm. Até 5 de agosto representa um universo de oportunidades para quem terá a caneta, o cetro, a autoridade e o inegável poder da sua competência para a coalização,  e as costuras tecidas com fios de seda, cinco vezes mais fortes que o aço. Tanta vantagem competitiva não aceita erros, falhas, desvios. E o ser humano erra por apenas dois motivos: ou falta de conhecimento ou falta de atenção. Daniel não poderá dar-se a qualquer destes luxos nesta travessia perigosa, em cujo final está o prêmio para o qual ele preparou-se. O que seria inteligente mas ainda não o é, é o suicida MDB aliar-se ao PSB, trazendo Maurão como vice, numa coalizão imbatível. Resolveria tudo. De um lado o senador Raupp trabalharia sua candidatura e Maurão conseguiria colher frutos da sua habilidade para o consenso, ainda que de forma atabalhoada. De outro o governador Confúcio teria sua candidatura ao Senado garantida, sem confrontos e conflitos. O poder do MDB com a caneta do PSB seriam imbatíveis em qualquer cenário. Nem precisa combinar com os russos, mas sem uma estratégia, tudo pode transformar-se num castelo de areia. Qualquer marola poderá desmontá-lo. Portanto, Daniel Sábio Pereira, rios e ventos correm a teu favor, o sol brilha apesar das nuvens e nem a enchente do Madeirão vai lhe atrapalhar. Na pior das hipóteses – que eu não considero – terás nove meses de governo com um registro histórico de inegável valor.

NA MANGA  | Depois disso tudo, Daniel ainda tem uma carta na manga com a marca do TCE, mesmo com os custos decorrentes. Mas precisa combinar com os russos. O prazo vai até 5 de agosto e tem enormes vantagens para o MDB. Maurão poderá assumir o governo sem desincompatibilizar-se, trazendo consigo uma coalização forte o suficiente para garantir ao partido sua hegemonia. Mauro “Gilson” Nazif que se cuide, pois já perdeu uma eleição que eu comandei, e uma bilheteria muito cara poderá inviabilizar o espetáculo.

(*) José Armando Bueno é empreender e jornalista, editor de A Capital

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